São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996
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Hollywood senta no divã do psiquiatra

NEIL BLINCOW
DA INTERNATIONAL FEATURE AGENCY

Um dos assuntos do dia em Hollywood é o divã do psiquiatra. Fama e fortuna nem sempre se traduzem em felicidade, e a psicoterapia já virou parte da vida de muitos astros de Hollywood.
Woody Allen tem consultas semanais com um psiquiatra há 30 anos. Faye Dunaway faz psicanálise há quase tanto tempo assim.
Robin Williams diz que seu terapeuta o tornou "uma pessoa muito menos louca do que antes". E a devoção de Dudley Moore à análise o ajudou a conseguir o papel que o transformou em astro.
A possibilidade de chorar as mágoas com alguém não custa barato -especialmente para quem é famoso.
Cobrando honorários que chegam a US$ 300 a hora, alguns psiquiatras de Beverly Hills já viraram milionários graças às neuroses de seus pacientes-estrelas.
Assim mesmo, a terapia não vem acompanhada de garantias de "cura". O comediante Richard Lewis estima que já gastou meio milhão de dólares com psicoterapia, mas admite: "Sei que nunca estarei totalmente curado".
O que será que há de errado com esses figurões de Hollywood? Por acaso estão malucos? Os especialistas dizem que não. Serão inseguros? Sim. Neuróticos? Provavelmente.
Na maioria dos casos, porém, as celebridades buscam principalmente um amigo com quem conversar.
"As estrelas de Hollywood têm muito medo de se abrir, mesmo com as pessoas com quem convivem mais estreitamente", diz a psicóloga Judy Kuriansky.
"Todo mundo precisa de alguém em quem confiar seus problemas. Então qual é a única pessoa com quem uma celebridade pode discutir seus problemas mais íntimos sem correr o risco de vê-los virarem manchetes? O terapeuta."
Com tudo que Woody Allen teve que enfrentar nos últimos anos (o escândalo de seu rompimento com Mia Farrow e o caso com a filha adotiva dela, Soon-Yi), quem poderia censurá-lo por querer escapar das manchetes por uma ou duas horas no consultório de um psiquiatra solidário?
"Não posso conceber minha vida sem a psicanálise", diz Woody.
Ele admite que a explicação das forças que o movem -e dos pesadelos que o atormentam- pode ser encontrada em seus filmes, na maioria dos quais há pelo menos um personagem neurótico extendido em um divã.
"Quase toda minha obra é autobiográfica."
Faye Dunaway faz terapia há anos e acha normal. "Por acaso todo mundo não faz análise por 20 anos?", pergunta.
Ela acha que foi a psicoterapia que a ajudou a superar o trauma emocional de seu divórcio do fotógrafo britânico Terry O'Neill, em 1987.
E também suas explosões temperamentais que durante anos lhe valeram a fama de ser uma das "prima-donas" de Hollywood (depois de dirigi-la em "Chinatown", Roman Polanski a qualificou de "pé no saco").
"A análise me ensinou a relaxar, a ter menos medo das coisas."
Williams, Edwards, Moore
Para o ator Robin Williams, a terapia "ajudou e muito" a mantê-lo distante das drogas e do álcool há quase 15 anos -desde que conseguiu abrir mão da predileção por cocaína e mulheres que derrubou seu primeiro casamento.
Williams não soube lidar com o sucesso que o transformou da noite para o dia.
"Eu tinha 26 ou 27 anos. De repente comecei a ganhar muito dinheiro e ser capa de revistas, muitas", conta.
"Acabei sendo engolido pelo sucesso, as drogas e as mulheres. Eu vivia doidão."
Williams conseguiu abandonar a cocaína de maneira total e repentina, sem usar nada para amenizar a ruptura, mas precisou da ajuda de um psiquiatra para não recair.
Dudley Moore também admite que faz análise há mais de 20 anos.
E foi uma sessão de terapia de grupo -na qual revelou sua "obsessão" por mulheres bonitas- que o levou a estrelar o filme "Mulher Nota Dez".
Um dos outros pacientes no grupo que ouviu sua confidência foi o produtor Blake Edwards, que na época enfrentava uma crise com o filme que estava produzindo -"Mulher Nota Dez"- porque o ator principal, George Segal, havia desistido logo antes do início das filmagens.
Edwards precisava de um substituto. Ele conta: "De repente olhei para Dudley Moore e percebi que o homem que preciso está sentado na minha frente".
O psiquiatra Tony Pietropinto diz: "O simples fato de ser rica e famosa não torna a pessoa emocionalmente forte. Por baixo da maquiagem e dos figurinos, os astros do 'showbiz' são pessoas comuns. Eles têm os mesmos traumas de infância, os mesmos temores e preocupações."
Pode ser -mas também é verdade que o fato de ter muito dinheiro ajudou muitas celebridades a pagar psiquiatras caros para ajudá-los a enfrentar seus problemas.
Segundo Kuriansky, o problema é que, "em vez de aprender a lição, algumas estrelas acabam usando a terapia como muleta".
"Algumas pessoas que passaram por um divórcio, por exemplo, utilizam o psiquiatra como substituto de um novo relacionamento -uma desculpa para não sair à procura do amor verdadeiro, que implica no risco de sofrer outra rejeição."
Nem todas as celebridades que já recorreram à psicoterapia gostaram. O ator Rod Steiger, 72, recorreu ao divã e a sessões de terapia de grupo para combater a depressão maníaca que o levou a se isolar por dois anos.
Os profissionais não conseguiram ajudá-lo a sair da depressão. Em lugar deles, foi o amor de sua mulher, Paula -35 anos mais jovem do que ele-, que o ajudou a superar o pesadelo.
Ironicamente, conta Steiger depois de vencer a batalha contra a depressão, "Paula saiu dessa minha fase tão esgotada que quase precisou de um psiquiatra!"

Tradução de Clara Allain

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