São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996
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SALVE, ARISTÓTELES

Séculos atrás, Aristóteles já proclamara que a virtude está no meio. A recentíssima revisão do chamado Consenso de Washington parece sugerir que fatia influente de intelectuais está redescobrindo o filósofo.
Durante a maior parte deste século, o mundo parecia dividido em torno de dois fetiches. Um era o "todo o poder ao Estado", seguido pelos países comunistas. O seu oposto era "todo o poder ao mercado".
A queda do Muro de Berlim foi encarada como a vitória definitiva da segunda linha. O intervencionismo estatal fracassara rotundamente nos países comunistas, o que foi tomado como sinal de que fracassaria em qualquer outra parte do mundo, mesmo que, nestas, o intervencionismo fosse muito mais brando.
Na absolutização do triunfo do mercado, passou-se ao largo do fato de que em alguns países (os asiáticos, por exemplo), o Estado é um agente econômico, direto e indireto, de peso razoável e nem por isso tais países fracassaram.
Ao contrário, são os de crescimento econômico mais dinâmico e de desigualdades sociais menos chocantes.
Sacralizar seja o Estado seja o mercado tem o inconveniente de omitir um dado da realidade: um e o outro são fruto de um conjunto de ações dos homens, falíveis por definição.
É claro que o Estado tende a fracassar mais do que o mercado, por um defeito congênito. Mas não está condenado a fazê-lo sempre. Às vezes, a boa qualidade do capital humano colocado a serviço do Estado produz resultados positivos, fato que lamentavelmente não tem ocorrido no Brasil. Aqui, ao contrário, a má qualidade do material humano na condução do Estado chegou a levar ao fracasso uma gestão pautada por idéias que são, essencialmente, positivas. Caso, por exemplo, de Fernando Collor de Mello no Brasil.
Por isso, é saudável ressuscitar o "in medio virtu" de Aristóteles, até porque o mundo já está tão impregnado de fundamentalismo religioso que se torna dispensável o fanatismo econômico, nem que seja a favor do mercado, a, até agora, menos ruim das formas de organização econômica inventadas pelo homem.

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