São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996
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O COMÉRCIO E OS NERVOS

Era uma vez um tempo em que os nervos dos brasileiros ficavam à flor da pele cada vez que saía um índice de inflação. Com o Real, essa crispação foi se reduzindo e tende a continuar assim, já que não há praticamente ninguém que esteja prevendo uma nova explosão inflacionária.
Por isso, o coração de economistas e investidores passou a pulsar em função dos resultados da balança comercial. Estes têm, sobre a inflação, a vantagem de que são divulgados apenas mensalmente, o que diminui o número de sístoles e diástoles.
Nem por isso deixa de ser exagerada a inquietação mensal com a balança comercial. Não se trata de negar a sua importância. Até porque, depois da crise mexicana de 1994, déficits comerciais passaram a ser sinônimo de sinal amarelo para a saúde econômica de países ditos emergentes, caso do Brasil.
Mas incomodar-se, a cada resultado mensal, é desperdiçar adrenalina.
É inútil, por exemplo, esperar que se mexa no câmbio para aumentar a competitividade das exportações. Que o real está sobrevalorizado, não há dúvidas. Mas uma desvalorização poderia ter efeitos inflacionários.
Logo, é mais realista olhar para outras direções. Uma delas é a redução do chamado "custo Brasil". A outra, menos falada, é a geografia das exportações brasileiras. Hoje, 70% delas dirigem-se a três blocos (o europeu, o sul-americano e o norte-americano). É uma boa diversificação, mas urge abrir mais as fronteiras asiáticas, até por serem os países da Ásia os que mais crescem.
Esse tipo de reflexão é ainda mais relevante em uma conjuntura em que há um déficit que, se tornado crônico, pode ser mortal. Mas não há motivos para histeria de curto prazo.

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