São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Petróleo não é laranja

MAURICIO T. TOLMASQUIM

A história do petróleo simboliza a luta pelo poder. Seu preço não pode ser analisado simplesmente sobre a ótica das teorias econômicas. Sem dúvida, ele sofre influência das tendências de oferta e demanda e do custo marginal de longo prazo, mas também é resultado da relação de forças existentes entre os diferentes atores sobre o mercado e das condições geopolíticas existentes.
A repartição extremamente desigual das reservas de petróleo (cerca de 65% se encontram concentradas no Oriente Médio) e o fato de ser a principal fonte de abastecimento energético de diversos países conferem ao petróleo um caráter indiscutivelmente estratégico.
Não é por acaso que o Oriente Médio tem sido o campo de enfrentamento das grandes potências e que os acontecimentos políticos naquela região, como nacionalizações algerianas, guerra de Yom Kippur, revolução iraniana, conflito entre Irã e Iraque, invasão do Kuait pelo Iraque, têm tido um impacto sobre os preços desse combustível.
Se, por um lado, é improvável um novo choque petrolífero da amplitude do ocorrido em 1973 e 1979, visto a diversificação da oferta e a existência de uma supercapacidade estrutural, em decorrência de fatores como aumento da eficiência no consumo e a substituição por outros combustíveis, por outro é ingênuo pensar que os preços do petróleo passaram a ser ditados apenas pelas forças do mercado e escapam a fatores políticos.
Um exemplo disso é que, mesmo vigorando o boicote sobre o petróleo iraquiano, o bombardeio americano sobre o Iraque foi suficiente para detonar um movimento especulativo sobre o preço do petróleo no mercado "spot".
Indiscutivelmente, petróleo não é um simples "commodity". Afinal, os países não promovem guerras para salvaguardar safras de laranja. O risco de que novos conflitos tenham impacto sobre os preços do petróleo são ainda maiores.
Principalmente se considerarmos a tendência de aumento da produção dos países da Opep para compensar a redução da produção dos países não-membros, principalmente os da América do Norte e do Mar do Norte, o que lhes deve conferir mais força no cenário energético mundial nos próximos 25 anos.
Este cenário reforça a importância de o Brasil ter um controle efetivo sobre as suas reservas de petróleo, de forma a assegurar ao país o ritmo de produção deste recurso. É fundamental que a participação de capitais privados nesse setor se dê em harmonia com os interesses nacionais. A auto-suficiência, no momento, pode não ser a meta prioritária. O mais importante é aumentar a descoberta de novos reservatórios e gerenciar criteriosamente a velocidade de extração, guardando para o futuro incerto uma reserva estratégica.

Texto Anterior: Riscos econômicos
Próximo Texto: UNE; Carteiras do PAS; Forçada de barra; Sede de poder; Magda "cover"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.