São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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Solteiro se arrisca mais e não se cuida

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

As estatísticas sobre a morte e suas causas em São Paulo refletem a atitude de risco dos solteiros e o comportamento doméstico dos casados. São dois modos opostos de viver: um mais intenso e arriscado, outro mais pacato e seguro.
"O solteiro tende a se identificar com o herói, que tem que se colocar em situações de risco", explica o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira. Na cidade, isso pode se traduzir em imprudência ao dirigir e mortes no trânsito.
Coordenador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo, Silveira diz que esse comportamento está mais associado aos homens e é mais intenso nas sociedade latinas e machistas -como a brasileira.
Segundo ele, o processo começa na adolescência e vai diminuindo com o tempo. Mas nem sempre: "A maioria dos homens solteiros de 30 a 39 anos é imatura. Têm um comportamento rebelde, transgressor, em geral fruto de uma adolescência malresolvida".
Nessa faixa etária, as cinco principais causa de morte para os solteiros são Aids, homicídio, broncopneumonias, acidentes de trânsito e cirrose.
Para a psiquiatra Carmita Abdo, a falta de perspectiva é uma das explicações para a atitude do solteiro. "É como se ele dissesse: já que não tenho nada pelo que esperar, vou viver intensamente o pouco que eu tenho agora", diz.
As perspectivas podem não ser melhores para o casado, mas há outros fatores que dão sentido a sua existência. "Viver para esperar que seu descendente tenha uma vida melhor", resume a professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.
Na sua opinião, a rotina doméstica dos casados não necessariamente implica qualidade de vida, mas apenas que eles sobreviverão mais: "Não quer dizer que eles estejam mais felizes. Só estão menos expostos ao risco".
Mulheres
"Há uma aproximação dos comportamentos feminino e masculino. E a mulher acaba aumentando sua exposição ao risco: tem mais liberdade para sair, fica mais tempo solteira e tem uma vida sexual mais intensa", afirma.
Com os anos, o solteiro que vivia exclusivamente voltado para o presente começa a se dar conta de que perdeu tempo.
Vem o desencanto de continuar sem perspectivas e não ter mais a juventude.
"Ele se torna mais vulnerável a doenças e não cuida da saúde", acrescenta a professora Carmita.
Segundo o médico Marcos Drumond, responsável pelos dados do Proaim, essas mortes nessa faixa etária seriam evitáveis. Em alguns casos, por meio de um simples controle da pressão sanguínea.
A mortalidade relacionada ao consumo de álcool também é muito maior para o solitário. O risco de morte por cirrose é seis vezes superior ao do casado, e o risco de morrer em função do alcoolismo chega a ser dez vezes maior.
Entre seus pacientes que sofrem de algum tipo de dependência, Silveira diz que até 30 anos o problema está mais ligado a drogas ilegais. E dos 30 em diante, a maior dependência é do álcool.
"É que o indivíduo demora mais tempo para desenvolver dependência do álcool", explica.
Para o médico Drumond, o álcool mata mais que qualquer droga: atinge homens e mulheres, solteiros e casados. Além do alcoolismo e cirrose, o álcool está ligado a mortes por homicídio, acidentes de trânsito, suicídio e até Aids.

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