São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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Nova biografia traz revelações

IGOR GIELOW
DE LONDRES

Samuel Beckett, escritor e dramaturgo irlandês que morreu em 1989, é o "hype" cultural de Londres neste mês.
Há alguns motivos. O principal é aquela que está sendo considerada a biografia definitiva de Beckett, feita por um amigo íntimo.
"Damned to Fame" ("Condenado à Fama", Bloomsbury, US$ 37,50), de James Knowlson, será lançado no Reino Unido no dia 19.
Traz histórias da vida de Beckett do ponto de vista peculiar do autor, que passou 20 anos trabalhando junto ao irlandês. No começo de 1989, antes de sua morte, Beckett o confirmou como biógrafo autorizado.
Nazismo
Algumas das passagens mais reveladoras sobre Samuel Beckett se referem à relação com as mulheres e sua ligação com a Resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial.
Beckett morava em Paris quando os nazistas marcharam nos Champs-Elysées, em 1940.
Era conhecido da cidade desde seus 22 anos, quando a visitou pela primeira vez por influência de seu mentor, o também irlandês e escritor James Joyce.
Segundo Knowlson, Beckett trabalhou ativamente nas redes de informação da Resistência, na qual foi recrutado pelo melhor amigo à época, Alfred Perón -um francês que conhecia desde sua juventude em Dublin.
Para detalhar a vida do biografado, o autor conduziu entrevista durante os últimos quatro meses da vida de Beckett, tendo acesso a cartas e manuscritos inéditos.
Em 1988, Knowlson já tinha aberto a Beckett International Foundation e recolhera diversos documentos sobre o autor.
O resultado da "garimpagem" traz a conexão entre o irlandês e a filha de James Joyce, Lucia.
Ela era apaixonada por Beckett, perdidamente pelo que as cartas de amor dão a entender. Quando o irlandês a abandonou, Lucia entrou em depressão e acabou morrendo esquizofrênica. Outra relação tumultuada foi entre a marchand Peggy Guggenheim e Beckett.
O escritor justificava a fama de irlandês beberrão. As noitadas com Peggy consumiam hectolitros de vinho e, aparentemente, durante um dos "pileques" ele a largou. Estavam no auge do seu relacionamento e Beckett casou com outra.
Este não é o primeiro livro de Knowlson sobre Beckett. Na verdade, desde 1971, ele lançou sete livros e publicou diversas resenhas sobre o autor, Prêmio Nobel de Literatura em 1969.
Evento
A "febre" Beckett se dá também por outra biografia, não-autorizada e menos badalada, que a Harper Collins deve lançar até o mês que vem. Chama-se "The Last Modernist" (O Último Modernista), sendo escrita pelo dramaturgo cômico Anthony Cronin.
No dia 15, o Royal Court vai sediar o "Tributo a Beckett", no qual cerca de 50 atores envolvidos em encenações de peças do irlandês nos últimos 20 anos irão se reunir e prestar uma homenagem.
Ainda não está definido todo o enredo do encontro, mas devem ser encenados atos ou pedaços de atos de algumas de suas peças, como "Dias Felizes" (1961).

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