São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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A cidade que queremos

HENRY SOBEL

O processo para a escolha do novo prefeito, ou prefeita, de São Paulo nas próximas eleições representa um momento privilegiado para que a sociedade paulistana se manifeste, influindo e apresentando propostas que contribuam para a definição do futuro da cidade onde moramos e vivemos.
E é exatamente isso que estamos fazendo nesse espaço, à medida que, a exemplo dos demais segmentos e entidades da sociedade civil, a comunidade judaica também se sente no dever de participar cada vez mais ativamente na construção desses ideais.
A reflexão que aqui compartilhamos com os paulistanos se refere a um questionamento que consideramos de importância vital para todos nós. Ou seja: estaremos indo às urnas, em 3 de outubro ou em 15 de novembro, apenas para eleger quem governará São Paulo nos próximos quatro anos ou para delinear o projeto de cidade que queremos para o século 21?
Não podemos nos esquecer que o terceiro milênio está aí, fato que nos torna responsáveis pela São Paulo que entregaremos a nossos filhos e netos. Por isso, precisamos pensar numa cidade que tenha um governo direcionado para a construção de uma sociedade mais justa, mais pacífica e mais solidária para o próximo milênio.
Ética e moralidade no trato da coisa pública são fatores indispensáveis para atender aos reclamos do conjunto da sociedade brasileira, no sentido de resgatar a enorme dívida social existente há décadas e de garantir à população os seus mais elementares direitos de cidadania.
Assim, é de nossa responsabilidade que a escolha recaia sobre alguém que esteja, de fato, disposto a se aliar com a sociedade civil organizada, com o objetivo de apresentar soluções concretas para as questões sociais. Somente assim poderemos pensar em estabelecer o embrião de um projeto maior que nos levará à conquista da sociedade que todos almejamos.
Em relação a isso, a experiência do povo judeu nos ensina que uma sociedade mais humana, justa e fraterna só é possível quando quem governa se dispõe a cuidar da educação, da saúde, da habitação, do saneamento básico e do bem-estar social, entre tantos e tantos outros assuntos diretamente relacionados às questões sociais e que são primordiais para a elevação das condições da dignidade humana.
E não podemos esquecer, também, que as próximas eleições nos darão a oportunidade de refletir sobre outros problemas que nos afligem hoje em termos conjunturais. Pelo menos dois deles atingem com maior evidência a cidade de São Paulo: o desemprego e a violência.
Para um e para outro, o novo prefeito, ou prefeita, deverá ter propostas e disposição real para executá-las. A sociedade civil, por sua vez, deve dar sua contribuição, como aliás já o vem fazendo em relação ao combate à violência, no recém-criado movimento Reage São Paulo-Chega de Violência.
Como se vê, são muitos os desafios para aquele ou aquela que vencer as eleições. Maior ainda será a nossa responsabilidade na hora de votar, pois não podemos perder a oportunidade de escolher alguém compromissado prioritariamente com a questão da cidadania e da restauração dos direitos dos cidadãos. O fundamento mais importante em torno do qual os povos erguem suas sociedades é a cidadania, sendo certo que todas as pessoas devem ter os seus direitos respeitados e preservados.
São essas, portanto, as nossas ponderações em relação aos pressupostos básicos que nos ajudarão a decidir sobre o perfil de quem deveremos escolher para estar à frente da prefeitura da maior cidade do país e da América Latina.
Como representantes da sociedade civil, estamos conscientes e preparados para auxiliar na gigantesca tarefa de construir um futuro melhor para São Paulo. Ao mesmo tempo, esperamos que das urnas saia um prefeito, ou prefeita, que, com base no enfoque ético e moral, esteja determinado a sinalizar para a sociedade um projeto de desenvolvimento econômico solidário, que seja capaz de combater o desemprego, melhorar a qualidade e as condições de vida e de governar para todos os paulistanos.

Henry I. Sobel, 52, é presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista e coordenador da Comissão Nacional do Diálogo Religioso católico-judaico, órgão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

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