São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996 |
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Steppenwolf traz rebeldia redefinida ao país
EDSON FRANCO
É quase impossível encontrar quem nunca tenha ouvido a música "Born to Be Wild", hino à rebeldia que acabou virando até tema de propaganda de absorvente. O autor dessa música e líder do Steppenwolf, John Kay, está redefinindo seu conceito de rebeldia. Em entrevista por telefone à Folha, ele diz que, nos anos 90, ser rebelde é saber respeitar a sua própria vontade. É o ego substituindo motocicletas, amor livre e drogas. Leia a seguir trechos da conversa. * Folha - Você deixou a Califórnia? John Kay - Sim, agora estou morando em uma cidade perto de Nashville, Tennessee. Folha - Essa mudança foi para ficar mais perto dos estúdios e da country music? Kay - Não, nós temos nosso próprio estúdio. Vim até aqui para ficar perto da minha família. Quanto a me aproximar da country music, eu acho legal. No Canadá, onde fiz o ginásio, ouvia muito country. Mas eu prefiro blues e rhythm and blues. Folha - O Steppenwolf aparece muito diferente em "Feed The Fire", o mais recente CD. Kay - Tem parte do som tradicional da banda. Continuamos usando guitarra e órgão hammond. A esse som adicionamos novas tecnologias, como o "sample", o que nos deu novas cores. O resultado é pouco diferente daquele de 20 anos. Há um grande uso de novas harmonias vocais. O som que fazemos hoje é uma extensão natural do que fazíamos no começo. Em nossos shows, tocamos muitas músicas antigas e outras mais recentes, e não há diferença na receptividade do público. Folha - Até que ponto as mudanças de formação e os anos afetam o som do grupo? Kay - Veja este exemplo: o nosso mais novo homem é nosso amigo há algum tempo, ele já havia tocado com Alice Cooper, Rod Stewart e o grupo Alcatraz. Seu nome é Danny Johnson. Ele é de Shreveport, Louisiana. É um grande guitarrista de rock'n'roll, mas teve de se adaptar ao estilo da banda. Folha - Ele é branco? Kay - Sim. Folha - Brancos são minoria nessa parte da Louisiana. Kay - É verdade. Todos os músicos que vêm de lá, assim como de Nova Orleans, trazem essa mistura da coisa afro com o blues. Isso faz com que a música americana tenha identidade e som especiais. Folha - Mas esse tipo de influência não é suficiente para mudar o som do Steppenwolf? Kay - Sim, mas o Danny é uma pessoa que cresceu ouvindo Steppenwolf. Ele está familiarizado com a nossa música e seu estilo de tocar tem a mesma direção do nosso. Então, quando ele se juntou a nós, não demorou muito para que soássemos como uma banda que já está junta há muito tempo. Folha - Você é democrático no relacionamento com a banda? Kay - Boa pergunta. Em alguns dias, preciso ser mais democrático, mas a realidade mostra que a personalidade mais forte tende a dominar qualquer grupo. Para ser sincero, nossa democracia é uma coisa que eu fazia para tentar convencer os outros a concordar com o que eu pensava. Folha - Isso vem mudando com o tempo? Kay - Sou mais paciente. Agora, aos 52 anos, estou muito mais em paz comigo e com a vida que levo. Estou casado com a mesma mulher há 30 anos, temos uma filha de 28 e vivo onde quero. Quanto à banda, hoje somos uma pequena organização, com várias pessoas talentosas trabalhando. No início, era para ter sido uma democracia, mas havia muita tensão. Agora, que não é uma democracia, somos mais felizes. Folha - Com uma vida tranquila como essa que você acabou de definir, ainda é possível ser rebelde? Kay - Sim. Hoje, quando olho para trás e vejo o que fiz nos últimos 30 anos, percebo que sempre vivi sem ter de responder a ninguém, a não ser a mim mesmo. Isso é rebeldia. Texto Anterior: Lou Reed evoca Velvet hoje em São Paulo Próximo Texto: Hermeto Paschoal ganha primeira biografia Índice |
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