São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996
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Rússia começa a se retirar da Tchetchênia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os soldados da Rússia começaram a se retirar da república separatista da Tchetchênia ontem, seguindo os termos de um acordo de paz assinado no mês passado.
Os militares russos demonstravam alegria na cerimônia de despedida no aeroporto militar próximo à capital tchetchena, Grozni.
O comandante da Rússia na região, Viatcheslav Tikhomirov, entregou medalhas de honra e agradeceu aos soldados depois de quase 21 meses de combates.
Eles foram enviados à região em dezembro de 1994, quando o presidente Boris Ieltsin resolveu reprimir os separatistas que haviam declarado independência em 1991.
Os tchetchenos, muçulmanos, tentaram se separar da Rússia a partir do fim do bloco comunista. A Rússia resolveu reprimi-los para evitar novas rebeliões separatistas e porque a Tchetchênia é uma região produtora de petróleo.
Cerca de 200 soldados russos e 24 tanques saíram ontem de Grozni em um trem, e outros 160 militares saíram de helicóptero.
A retirada começou com o 133º batalhão, que participou de quase todos os principais combates na Tchetchênia e que é conhecido entre os rebeldes como "asa negra".
No lugar da supervisão única dos soldados russos, a cidade de Grozni passa a ser patrulhada por administrações militares conjuntas entre os tchetchenos e os russos.
O vice-ministro do Interior da Rússia, Valeri Fiodorov, encontrou-se ontem com seu equivalente rebelde, Kazbek Makhachev, para discutir a coordenação entre o policiamento russo e tchetcheno.
Uma das possibilidades é que as estruturas policiais tenham de relatar os acontecimentos para Moscou e para a liderança rebelde.
O recente acordo de paz, assinado depois da derrota militar russa em Grozni, prevê a retirada de todos os soldados russos da região.
Mas o governo de Moscou diz que pretende manter alguns soldados em uma base permanente na região, não em uma "operação especial", como os russos chamam a intervenção na Tchetchênia. Os rebeldes respondem que não havia tropas russas antes da operação.
O presidente Boris Ieltsin tornou a situação na região ainda mais difícil na quinta-feira, quando disse que apoiava o acordo de paz obtido pelo general Alexander Lebed, mas considerava o ritmo da retirada russa muito rápido.
Além de prever a retirada das tropas, o acordo de Lebed também adia a decisão sobre a independência da Tchetchênia, reivindicada pelos rebeldes, para o ano 2001.
"Rezem a Deus para que, desta vez, haja realmente a paz e não outro caso de perda de território", disse o comandante Tikhomirov.
Os russos reclamam que uma série de tréguas anteriores na Tchetchênia apenas serviu para que os rebeldes se rearmassem e retomassem posições na guerra.
Futebol
Os combates terminaram desde o último cessar-fogo, do dia 21 de agosto. Ontem, soldados russos e rebeldes tchetchenos chegaram a jogar futebol juntos, segundo a agência de notícias "Itar-Tass".
Os russos não tiveram dificuldade para vencer os rebeldes (3 a 1), diferentemente do que ocorreu no campo de batalha -em que tchetchenos do mesmo grupo venceram os russos na luta por Grozni.
Hoje, os dois times, que combateram durante quase 21 meses pela capital tchetchena, participam da mesma junta militar que patrulha o bairro de Novopromislovski.
O campo em que jogaram teve de passar antes por uma vistoria para retirar as minas explosivas.
Os jogadores disseram que, depois que todos os campos de futebol tiverem as minas retiradas, eles participariam de um campeonato maior -a Copa da Paz de Lebed.

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