São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996
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BINGO E RICOCHETE

O Brasil é um país enorme, e esta sempre foi uma explicação para a falta de hábito de os brasileiros olharem para o resto do mundo. O fenômeno da globalização torna essa espécie de viés autóctone inaceitável.
A globalização, entretanto, ainda parece muitas vezes remeter a realidades que parecem distantes demais, que acontecem nos grandes centros. Invertendo a luneta, se nos colocarmos no lugar dos observadores internacionais, somos nós, brasileiros, argentinos, mexicanos e outros "latinos" que nos confundimos numa única massa emergente.
Até o FMI já alertou para essa dificuldade de acesso a dados sobre tantas economias, propondo um sistema de informações na Internet.
Mas mesmo entre os "latinos" o grau de familiaridade deixa a desejar. Pesquisas entre empresários brasileiros mostram que a informação sobre o Mercosul ainda é limitada.
Ocorre que o grau de interdependência é elevado, e a situação num vizinho como a Argentina, por exemplo, pode afetar a percepção dos mercados globais sobre o próprio Brasil. Como ensinou a crise mexicana, os países são diferentes e reagem com políticas próprias, mas alguma contaminação é na prática inevitável.
Essas considerações tornam-se ainda mais relevantes agora que, na Argentina e no Brasil, crescem as discussões sobre sucessão presidencial. Fatores políticos tendem a prevalecer, e, nos mercados, ainda é débil a imagem da América Latina como sistema de democracias estáveis.
As dificuldades da nova equipe econômica nomeada pelo presidente Menem são, nesse sentido, emblemáticas. Para preservar a confiança no peso, é necessário um ajuste fiscal da maior severidade, com aumento de tarifas públicas, redução de subsídios e aumento de impostos. A negociação com o Congresso prossegue a duras penas, e o desgaste político parece inevitável.
A economia global é como um bingo, uma roleta em que não se sabe quem será o próximo alvo da incerteza financeira. É bom não esquecer que há sempre um efeito ricochete.

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