São Paulo, terça-feira, 10 de setembro de 1996
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Buraco de viaduto vira moradia em SP

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

A existência de vãos e frestas no elevado Costa e Silva (centro de São Paulo) está transformando o local em uma verdadeira "mocolândia", ocupada por garotos e moradores de rua.
"Mocó" é a denominação utilizada pelos moradores de rua para suas "moradias" ou esconderijos.
O principal ponto de concentração de moradores de rua é o acesso à rua da Consolação e à ligação Leste-Oeste, embaixo da praça Roosevelt.
A população do local é flutuante. Nos dias mais movimentados, chegam a dormir ali até 15 pessoas em cada buraco de cerca de 20 m2. Meninos de rua se juntam a viciados em droga e adultos guardadores de carro.
Sérgio, 18, um dos pioneiros do "mocó", conta que há cerca de seis meses eles abriram, com a ajuda de um pedaço de ferro, uma das tampas da caixa de manutenção do elevado e se instalaram. De lá para cá, pelo menos outros três vãos foram ocupados.
O principal passatempo é a cola de sapateiro, consumida continuamente. Alguns garotos jogam pife-pafe com um baralho velho.
"Antes nosso passatempo era uma televisão pequena, daquelas do Paraguai, que funcionava à bateria, mas a polícia passou aqui anteontem e levou", explica Marcos, 26, o mais antigo do local.
As visitas da polícia, segundo eles, são frequentes. J., 17, diz que na semana passada policiais militares colocaram fogo em um dos vãos, mas que não demorou muito para que o buraco fosse ocupado novamente. "Nós não temos outro lugar para ficar", diz.
Muitos deles alternam temporadas na rua e na casa da família, de onde fogem comumente depois de sofrerem algum tipo de violência ou em função da miséria.
E., 12, diz que prefere viver na rua a ficar com a mãe, que mora em um hotel em Santo Amaro (zona sul). "Minha mãe trafica drogas, rouba, faz tudo o que tem direito. Ela está foragida da polícia, porque fugiu da cadeia no interior. Mas de vez em quando me dá uma saudade dela e eu volto para lá."
SOS
O SOS Criança pretende fazer uma nova ofensiva esta semana junto aos menores de rua do centro da cidade para tentar levá-los à instituição.
"Aquela área é a mais complicada, porque os garotos ali estão muito envolvidos com droga, e o vínculo familiar está, na maioria das vezes, totalmente cortado", afirma o coordenador do SOS Criança, Paulo Vitor Sapienza.
"Vamos vencer pelo cansaço. O que eles precisam é de muita paciência, amor e carinho para confiar no nosso trabalho", afirma.

Colaborou Otávio Dias de Oliveira, repórter fotográfico

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