São Paulo, terça-feira, 10 de setembro de 1996
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FMI respalda o ajuste fiscal da Argentina

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Michel Camdessus, aproveitou uma viagem oficial ao Uruguai para dar seu respaldo pessoal ao ajuste fiscal do governo argentino.
Anteontem à noite, Camdessus viajou de helicóptero de Montevidéu até Buenos Aires, a fim de se encontrar com o presidente Carlos Menem e o ministro Roque Fernández (Economia).
"Estarei em condições de dar minha aprovação ao acordo com a Argentina antes do próximo sábado", disse Camdessus, se referindo a novas metas fiscais e limites de endividamento.
O apoio deve se traduzir em novos empréstimos, que ajudariam a financiar o déficit nas contas públicas. O acordo em vigor permite déficit máximo de US$ 2,5 bilhões em 1996. Nos primeiros oito meses do ano, porém, o rombo superou US$ 3,6 bilhões.
Camdessus elogiou o pacote lançado por Fernández para reduzir o déficit, mas observou que "faltam detalhes pendentes, como o apoio do Congresso".
Menem foi categórico em relação ao apoio dos governadores e parlamentares. "Isso eu garanto", afirmou. O presidente fez uma série de concessões às Províncias para facilitar a aprovação do pacote.
A equipe econômica deve concluir amanhã ou na quinta-feira a elaboração de uma carta de intenções com o FMI, o primeiro passo para um novo acordo.
Apesar de garantir seu aval a um novo acordo, Camdessus não quis revelar quais serão as metas para os últimos meses de 96 e para 97. Adiantou apenas que as metas permitirão a redução do déficit, "mas sem políticas recessivas".
Menem e Fernández também se reuniram com o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias, no final da tarde de ontem. Depois do encontro, Iglesias disse que o déficit argentino não é "alarmante".
A privatização da hidrelétrica de Yaciretá, uma das medidas anunciadas pelo governo para reduzir o déficit, ficou ameaçada com o relatório da Auditoria Geral da Nação, anunciado ontem.
O órgão, ligado ao Congresso, rejeitou por unanimidade a privatização, alegando que a hidrelétrica vale US$ 18 bilhões -o projeto do governo prevê arrecadar apenas US$ 1 bilhão.
O relatório dos auditores pode ser o pretexto que muitos parlamentares buscavam para rejeitar a privatização. O anúncio gerou rumores sobre a eventual demissão do secretário de Energia, Carlos Bastos, ligado ao ex-ministro Domingo Cavallo.
Detenção
A Polícia Federal argentina prendeu 12 ex-diretores do BID (Banco Integrado Departamental) na noite de domingo e na madrugada de ontem. Os detidos são acusados de cometer fraudes na administração do banco, fechado há 17 meses.
A quebra do banco, ocorrida quando a Argentina sofria com o "efeito tequila" -como ficaram conhecidos os estragos provocados pela crise mexicana nos mercados internacionais-, deixou cerca de 80 mil depositantes com recursos retidos.
As perdas dos correntistas e investidores são estimadas em cerca de US$ 380 milhões.

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