São Paulo, terça-feira, 10 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China evita lembrar a morte de Mao

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China deixou ontem a seus principais jornais a missão de marcar o 20º aniversário da morte do líder comunista Mao Tse-tung.
Em suas primeiras páginas, eles anunciaram a publicação, pelo Partido Comunista, de textos do "Grande Timoneiro", além de nova biografia e cartas que ele enviou a amigos e parentes.
Não houve cerimônias de rua ou atos que tentassem reunir multidões. O Partido Comunista quer manter a reverência a seu principal líder histórico, mas busca evitar novas ondas de culto à personalidade de Mao.
O Partido Comunista teme que uma maré de maoísmo possa questionar o caminho das reformas capitalistas na economia, adotadas em 1978.
Mao era contra concessões à economia de mercado.
Mas o Partido Comunista também não quer romper com a herança de Mao. Teme que uma reavaliação radical do papel histórico do líder comunista acabe questionando também a revolução de 1949, liderada por Mao, e como consequência se questione a própria legitimidade do Partido Comunista no poder.
Atuando dentro desses limites, o governo organizou domingo passado em Pequim a apresentação de um coral que entoou músicas como "O Oriente é Vermelho", uma canção revolucionária.
Turistas continuaram ontem visitando o mausoléu que abriga o corpo embalsamado do dirigente comunista e fica na praça Tiananmen, centro de Pequim.
Li Min e Li Na, filha de Mao e únicas descendentes do líder comunista ainda com vida, visitaram o mausoléu no começo da manhã.
Livros
Foram lançados os volumes três, quatro e cinco de "Textos de Mao Tse-tung". Os dois primeiros tomos saíram em 1993, ano do centenário do nascimento do dirigente comunista.
Com a morte de Mao, a 9 de setembro de 1976, a China via o fim da Revolução Cultural, lançada pelo "Grande Timoneiro" dez anos antes.
O movimento radicalizou as teorias comunistas e mergulhou o país no caos econômico e em uma escalada de perseguições a "inimigos do regime".
"Guardas vermelhos" mataram e perseguiram milhares de pessoas, destruíram templos e outros vestígios do "passado feudal".
Deng Xiaoping, 92, arquiteto das atuais reformas pró-capitalismo, foi perseguido durante a Revolução Cultural. A morte de Mao abriu o caminho para Deng conseguir implantar sua estratégia.

Texto Anterior: Cai a maior cidade curda do Iraque
Próximo Texto: Ieltsin pode delegar poderes ao premiê só verbalmente, diz juiz
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.