São Paulo, terça-feira, 10 de setembro de 1996
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Pai padrasto

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A entrevista com o governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz (PT), sugere, houvesse um mínimo de racionalidade no debate político brasileiro, que há uma margem ampla de entendimento entre direita e esquerda em torno da reforma do Estado.
No mínimo, expõe o consenso de que o Estado precisa ser reformulado, seja qual for o destino que se quiser dar a ele. Ou para executar apenas as funções clássicas e mínimas, como parece pretender a direita, ou para promover também o intervencionismo social, como, em tese, prega a esquerda.
Aliás, basta usar uma frase de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder histórico do PT, para se decretar a necessidade de rever o papel do Estado:
"Tem gente que não precisa do Estado, mas o problema é que o governo governa justamente para quem não precisa dele", acha Lula, com razão.
Vem sendo assim, a rigor, desde que Cabral desembarcou nestas terras nada santas.
O que emperra, então, a reforma do Estado? De um lado, o caráter predatório que assumiu o discurso do atual governo federal. Dizem os gurus em gestão que o segredo da reengenharia é conquistar as mentes e corações dos liderados para fazer as reformas necessárias, em geral doloridas.
Se essa regra é válida para o setor privado, muito mais ainda deveria ser para o setor público, no qual a possibilidade de impor a dor é limitada por determinações constitucionais.
Mas o governo preferiu tratar o funcionalismo, como um todo, como o inimigo a vencer, o obstáculo à suposta modernização do país. Provocou uma reação de igual força e sentido contrário, encampada pelos partidos ditos de esquerda.
Estes passaram a dar a impressão de que defendem o status quo, quando deveriam ser os seus maiores críticos, justamente porque são de oposição.
E assim, de equívoco em equívoco, não se sai do lugar e o Estado continua servindo mais quem dele menos precisa.

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