São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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O novo papel do BNDES

LUÍS NASSIF

Nos próximos dias o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) irá fazer um aporte de cerca de US$ 20 milhões em um fundo de investimento de empresas emergentes, administrado pelo Banco Garantia. Recentemente, entrou como acionista de um fundo de aplicação em empresas emergentes de Santa Catarina.
Trata-se de mais uma frente aberta pelo banco -a de ser o fundo dos fundos-, dentro do atual processo de reciclagem que atravessa.
Ganha-se duas vezes. Primeiro, atuando como catalisador de investimentos privados. Segundo, tendo acesso aos estudos técnicos setoriais desses fundos, e complementando-os com suas próprias análises.
No fundo, o banco prepara seu "aggiornamento" para atuar em uma nova economia. Nos anos 50, foi instrumento para desburocratizar os repasses de fundos internacionais para obras de infra-estrutura. Esgotadas essas fontes, passou a atuar no financiamento da substituição de importações, privilegiando setores previamente escolhidos.
Agora, o desafio é encontrar maneiras de atuar em uma sociedade aberta, em rápido processo de mutação, atendendo às emergências que surgem, sem perder de vista o novo modelo, diz seu presidente Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Sinalizador
Um dos ângulos dessa mudança consiste em atuar como sinalizador da poupança privada. Entra nesse jogo com o trunfo de possuir o maior banco de dados de análises setoriais do país.
Uma segunda linha será o financiamento das chamadas reestruturações competitivas -ou seja, daqueles setores que precisam se modernizar para enfrentar a abertura do mercado, como o têxtil e o calçadista.
Uma terceira linha de atuação será levantar novos mecanismos visando facilitar o fluxo de recursos para duas áreas prioritárias: exportações e bens de capital, que exigem financiamentos de ciclo mais longo.
Uma das alternativas em estudo será o banco passar a atuar como uma empresa de "factoring" para esses setores. Financia as empresas tendo como garantia seu fluxo futuro de vendas, ou os recebíveis futuros de um contrato de longo prazo.
É o instrumento que se vislumbra para contornar o atual desinteresse dos bancos em repassar os recursos da Finame (a linha do BNDES para financiamento de equipamentos).
Esse mesmo modelo está sendo pensado para o financiamento das exportações de ciclo longo. Além disso, o banco pretende repassar recursos para bancos estrangeiros financiarem seus importadores, no caso de compra de produtos brasileiros.
A primeira experiência deverá ser com bancos chilenos. Nos próximos dias, uma equipe do banco estará visitando o Eximbank do Japão e da Coréia, para absorver sua experiência nessa área.
Novos fundos
A continuar nesse ritmo de liberação de recursos, poderá faltar fundos a partir de 1998. A idéia em gestação é utilizar a privatização para abater passivos públicos. E, durante alguns anos, os juros que seriam pagos pelos passivos seriam canalizados para um fundo administrado pelo próprio BNDES.

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