São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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Natalie Cole repete dueto com o pai

UBIRAJARA C. CASTRO

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

O novo CD de Natalie Cole, "Stardust" (Warner-Elektra), com lançamento marcado para 24 de setembro, tenta repetir o estrondoso sucesso de "Unforgettable", de 1993, que vendeu mais de seis milhões de cópias e ganhou sete Prêmios Grammy.
Desta vez, além de haver novamente um dueto eletrônico com seu pai, na gravação de "When I Fall In Love", o álbum contém duas músicas brasileiras: "Like a Lover", a versão americana de "O Cantador", de Dori Caymmi, e "Dindi", de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. Em Los Angeles, Natalie Cole falou para a Folha.
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Folha - Como nasceu a idéia de fazer "Stardust"?
Natalie Cole - O projeto começou a nascer no final de janeiro de 1996. É uma história meio estranha -eu já tinha começado a gravar um outro álbum em 1995, produzido pelo meu marido, Andre Fischer, com músicas de rhythm and blues.
Não sei direito como foi que aconteceu mas, no meio do ano, nosso casamento começou a ter problemas, e, em setembro de 1995, acabamos nos separando. Tínhamos gravado só umas quatro ou cinco músicas.
Então, em janeiro deste ano, minha gravadora me chamou para discutir o que fazer, e eles foram muito compreensivos sugerindo que abandonasse aquele projeto em razão das lembranças dolorosas que poderia me trazer, e que começasse a pensar num outro, nos moldes de "Unforgettable", que fez tanto sucesso.
Folha - Como foi o processo de seleção das músicas?
Cole - Em março deste ano, fiz uma turnê pelo Japão com duas apresentações por dia, seis dias por semana, num total de 24 shows. Eu e os seis músicos que me acompanharam estávamos com dificuldade para encontrar músicas para esses shows e começamos a pesquisar nas lojas de discos. Foi assim que selecionamos algumas músicas, entre elas, "Stardust", "Teach me Tonight", "Like a Lover". Em abril, quando fomos para o estúdio gravar, tínhamos umas trinta músicas.
Folha - Como é que "Like a Lover" ("O Cantador") e "Dindi", duas músicas brasileiras, acabaram sendo incluídas neste disco?
Cole - Há muito tempo que eu tenho adoração por "Like a Lover". Já era fã do Sérgio Mendes desde a época em que eu estava nos últimos anos do ginásio. Quando terminei a faculdade e comecei minha carreira, gostava de cantar certas músicas que ele tinha gravado, como "Like a Lover", "Look Around", "Fool on the Hill". De "Dindi" eu não me lembrava bem. Tinha ouvido uma ou duas vezes antes, uma em português outra em inglês. Gravei "Dindi" em Nova York, em inglês. Quando viemos gravar "Like a Lover" em Los Angeles, o Dori Caymmi insistiu em que eu a regravasse em português, que ficaria muito mais bonita. Ele tinha razão.
Folha - Com a inclusão de duas músicas brasileiras no seu novo álbum, a senhora pensa em se apresentar no Brasil?
Cole - Acho que não tenho outra escolha, não é? Estou pensando em fazer uma turnê pelo Brasil, Europa e Austrália, a partir do segundo trimestre de 1997. Espero que o público brasileiro goste das gravações tanto quanto eu.
Folha - A senhora gosta de viajar com o seu show?
Cole - Não! (ri). Eu já viajei muito e agora me sinto muito apegada a minha casa. Vou tentar ganhar mais e viajar menos. É muito trabalhoso, sobretudo porque as músicas deste álbum exigem uma grande orquestra.
Folha - Qual a faixa de "Stardust" de que a senhora mais gosta?
Cole - Eu gosto particularmente de "Two for the Blues", de Count Basie. Quando eu tinha onze anos, meu pai trouxe o disco para casa e me apaixonei por ela. Também gosto muito de "Stardust". Para mim, foi muito gratificante porque não preciso mais provar nada para ninguém.
Folha - Quando fez, pela primeira vez, um dueto com seu pai em "Unforgettable", a senhora se sentiu intimidada?
Cole - Muito. Na verdade foi uma pressão que eu mesma criei tentando provar que seria capaz de cantar aquele tipo de música e, também, porque queria prestar uma homenagem ao meu pai. Jamais pude imaginar que fosse fazer tanto sucesso. Desta vez me senti muito mais à vontade.
Folha - Comenta-se muito sobre a influência do seu pai na sua carreira. Sua mãe teve alguma influência na sua vida profissional?
Cole - Claro que sim. Em primeiro lugar ela tem muito bom gosto e também foi cantora. Há alguns anos ela foi me ver cantar, na França, e me deu alguns conselhos de como me mover no palco. Sempre me incentiva muito e, às vezes sugere músicas para eu gravar.
Folha - A senhora se considera no topo da sua carreira?
Cole - Não sei o que é isso. Eu já tive tanto altos e baixos.
Folha - É possível ficar ainda melhor?
Cole - Acho que sim. Não sei como, nem quando. Acredito que ainda possa descobrir coisas novas que sejam melhores. Quando gravei "Unforgettable", tive oportunidades que nunca imaginei: cantei para reis e viajei pelo mundo. Penso que, com esse disco, cantando músicas em outras línguas, terei oportunidades maravilhosas.
Folha - A senhora se formou em Psicologia Infantil. Ainda tem interesse pelas crianças?
Cole - Um dos meus desejos é poder usar a música como parte da terapia. A música exerce uma grande influência nas nossas vidas. São as músicas que ouvimos na infância as que mais lembramos, assim como aquela que ouvimos quando apaixonados. Essas músicas com que crescemos são importantes, não necessariamente os sucessos comerciais. A música é provavelmente a única arte à qual todas as pessoas podem ter acesso.

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