São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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Química do sexo

GILBERTO DIMENSTEIN

Às vésperas do novo milênio, os americanos decidiram ressuscitar uma prática medieval para combater os crimes sexuais: a castração.
Apoiada em altos escalões políticos da Califórnia, a punição ganha toque de sofisticação científica e troca a cirurgia pela castração química. O prisioneiro receberia injeções que o deixariam impotente, baixando o nível de testosterona, hormônio que regula o apetite sexual.
A Califórnia tem-se notabilizado pelas idéias mais radicais contra o crime. Por exemplo: depois do terceiro delito, o indivíduo é punido simplesmente com prisão perpétua.
A novidade encantou o país, apesar de ter produzido absurdos: um rapaz roubou um pedaço de pizza e o júri o condenou a passar o resto de seus dias atrás das grades.
Se a castração química também vai empolgar os americanos é ainda dúvida. O certo, porém, é que a testosterona virou moda nos EUA e, agora, vai se disseminar pelo mundo -sobretudo porque escapuliu dos meios acadêmicos, ganhou nesta semana reportagem de capa da "Newsweek" e promete transformar a impotência em coisa do passado.
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Não virou moda por causa dos estupradores presos na Califórnia. Mas porque é apresentada como nova fonte de juventude, a partir de estudos científicos preliminares.
Os novos remédios impulsionariam a disposição física, memória e, principalmente, o apetite sexual, afetados depois dos 40 anos. Para completar, reduziriam o colesterol, um dos responsáveis pelas doenças no coração.
Os pacientes receberiam tratamento inverso ao dos criminosos sexuais; jogariam mais testosterona no corpo.
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A castração química é mais uma consequência de uma onda que varre os EUA, priorizando a punição para combater o crime.
A pena de morte voltou a Nova York. A população carcerária é de 1,5 milhão de pessoas e não pára de crescer.
O fenômeno mereceu no Rio de Janeiro, durante seminário sobre fundações, comentário do economista americano Jeremy Rifkin: "Se um país não investe na geração de empregos e na proteção social, vai pagar mais caro para construir cadeias".
Rifkin é autor do livro "O Fim do Emprego", um dos mais badalados nos EUA.
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PS - O encontro no Rio das fundações, a maioria mantida por empresas, é mais um sinal de amadurecimento democrático e da evolução da agenda brasileira; lentamente, os empresários descobrem que seu papel na sociedade vai além do lucro e buscam formas de reduzir a exclusão social.
O encontro mostrou que centenas de projetos modelares são patrocinados graças ao empenho de empresas. Os participantes tomaram conhecimento dos números nos EUA: os americanos doam, anualmente, US$ 114 bilhões, 20% de todo o PIB brasileiro.

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212) 873-1045

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