São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 1996 |
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Para militar, decisão é 'sapo' histórico
RUI NOGUEIRA
As Forças Armadas esperavam a derrota por um placar mais apertado -não contavam ficar apenas com os votos do procurador Paulo Gonet Branco e do general Oswaldo Pereira Gomes, representante dos militares. A estratégia para enfrentar a derrota foi traçada no início da semana. Ficou acertado que só os ministros poderiam demonstrar insatisfação, em público, com a indenização às famílias Lamarca e Marighella. Farão isso em momentos oportunos, como solenidades oficiais. Qualquer reação de militar da ativa, abaixo do ministro e não-autorizada por ele, será punida dentro dos regulamentos disciplinares das Forças Armadas. Renúncia A derrota por 5 a 2 acrescentou um novo ingrediente a essa estratégia: a reação do general Gomes, que chegou a pensar em renunciar e estuda um recurso à Justiça para reverter a autorização para indenizar as famílias dos guerrilheiros. Acuado pelo clima desfavorável dentro do Ministério da Justiça, local das reuniões da Comissão de Mortos e Desaparecidos, o general Gomes chegou a pedir o apoio do Cecomsex (Centro de Comunicação Social do Exército) para organizar uma entrevista na qual anunciaria a renúncia. Marcada para as 16h30, a entrevista foi cancelada a mando do Planalto, que convocou Gomes e o ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, para uma reunião no Palácio da Alvorada. Cardoso foi um dos que mais se empenharam, nos últimos 15 dias, na tarefa de convencer os chefes militares a acatar o que viesse a ser decidido sobre as indenizações. Os dois generais reuniram-se com FHC por cerca de meia hora. Gomes saiu demovido da intenção de renunciar -"pelo menos por enquanto"-, mas, à porta do Alvorada, classificou de "provocação desnecessária às Forças Armadas" o veredito da comissão. Na frente de FHC, Gomes disse que iria renunciar por achar que a Comissão de Mortos e Desaparecidos seguiu um "comando político". Para ele, houve uma orientação "de cima para baixo" para indenizar as famílias. FHC desafiou o general Gomes a dizer de onde vinham tais orientações. O general disse que só tinha suspeitas e que, como advogado, "não podia falar sem provas". O presidente rejeitou a argumentação, disse que a comissão decidiu com independência e pediu que ele permanecesse. Enquanto o general falava à porta do Alvorada, o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, dizia no Planalto que "na democracia não existe alternativa para o respeito à lei". Oficialmente, as Forças Armadas não se manifestaram. No Cecomsex, foi adotada a expressão "nada a declarar" para qualquer pergunta da imprensa. Os assessores do Ministro do Exército, Zenildo de Lucena, fizeram uma reunião especial, logo que saiu a decisão, para avaliar a situação. Colaborou a Sucursal de Brasília Texto Anterior: Passa indenização a Lamarca e Marighella Próximo Texto: Recursos saem até fim do mês Índice |
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