São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 1996
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Garoto brasileiro em coma fica sem hospital no Japão

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU

O brasileiro Paulo César Seike, 14, está em coma e sem assistência médica no Japão porque sua família não tem condições de pagar a internação e o tratamento num hospital privado.
O adolescente, que é chamado pelos familiares de Dal, está inconsciente desde que sofreu um acidente de carro em 19 de agosto na localidade de Oaza Hinomiyakamishinkiri, na Província (Estado) de Aichikei Hoigun, cuja capital é Nagoya.
Ele está sendo cuidado em casa pelo pai, o feirante Shikahide Seike, 65, há uma semana, desde que teve de sair do hospital. Como imigrantes sem vínculo empregatício, os Seike não têm direito ao sistema público de saúde no Japão.
A diária do hospital é de US$ 1.000. A família possui um seguro-saúde que cobre US$ 700.
"Ele tem de pagar US$ 300 por dia de hospitalização. Esse dinheiro Seike não tem, nem a família", afirmou Aparecida Duarte Seike, 42, mulher de Seike e mãe de Dal.
Ela mora em Tupã (527 km a noroeste de São Paulo) e disse que só ficou sabendo do acidente anteontem, ao receber uma carta do marido, datada de 26 de agosto.
Seike e Dal viajaram para o Japão há quatro meses. Eles foram como dekasseguis (mão-de-obra estrangeira). Segundo a família, Seike foi trabalhar em uma empresa que faz asfalto. Junto com eles está Tsuneko Seike, ex-mulher de Seike.
Sem reação
Na carta, ele diz estar desesperado com a situação do filho. "Dal não fala, não come, nem abre os olhos", escreveu Seike.
Segundo o feirante, o filho sofreu o acidente quando estava indo de carro para o trabalho.
Aparecida diz que o rapaz trabalha em uma loja que vende comida pronta, mas não soube informar o nome. Pela legislação japonesa, segundo o Consulado do Japão em São Paulo, só podem trabalhar jovens a partir de 15 anos.
"No acidente, ele bateu a cabeça contra o pára-brisa do carro e caiu inconsciente. Desde então, segundo soubemos, Dal não esboçou qualquer reação nem recobrou a consciência", afirmou Maria Fátima, irmã do rapaz.
Na mesma correspondência, Seike diz que, se não pagar as despesas de internação do filho, não tem como deixar o Japão para retornar ao Brasil.
Segundo Maria Fátima, o irmão não estava satisfeito no Japão. "Ele pretendia retornar ao Brasil no final do ano", disse.
O comerciante Jorge Seike, irmão por parte de pai de Dal, disse ontem que vem tendo "dificuldades" para obter informações.

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