São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 1996
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R.E.M. une despojamento e maturidade

MARISA ADÁN GIL
DA REPORTAGEM LOCAL

Se alguém quisesse provar que o R.E.M. é hoje a melhor banda norte-americana em atividade, "New Adventures in Hi-Fi" seria o argumento definitivo.
O novo disco -o décimo da banda- explicita de maneira radical a maior virtude do grupo liderado por Michael Stipe: a capacidade de se reinventar a cada trabalho, sem nunca perder as características que o tornaram especial.
Nesse sentindo, "New Adventures" é absolutamente coerente com os dois álbuns anteriores.
Depois de chegar perto da perfeição em "Automatic for The People" (1992), um compêndio de baladas, eles haviam ganhado peso e balanço em "Monster" (1994).
Em comum, os dois trabalhos tinham a depuração do som no estúdio (no qual contam com o "quinto membro", o produtor Scott Litt), a limpeza dos arranjos e a clareza dos vocais de Stipe.
"New Adventures" acaba com tudo isso. Apenas algumas faixas foram gravadas em estúdio -e, mesmo assim, em tempo recorde. A maioria foi registrada em condições muito aquém das ideais: ao vivo, em passagens de som e até mesmo no camarim.
O que se revela é um novo/velho R.E.M. Ao mesmo tempo que retoma o despojamento dos seus primeiros discos, a banda se arma da maturidade adquirida para ousar nas composições e arranjos.
Duas faixas estão entre as melhores que o grupo já gravou. "E-Bow the Letter", gravada em estúdio, traz o encontro histórico entre o grupo e a cantora Patti Smith, uma de suas maiores influências.
Ao contrário de outros encontros do tipo -como o de Neil Young com Pearl Jam-, aqui o entrosamento é completo. Dá a impressão de que se trata de uma parceria, apesar de a composição ser apenas do grupo.
Os vocais declamados de Stipe evocam o contralto de Patti, enquanto guitarras reafirmam o folk-rock do R.E.M. O resultado é algo entre "Horses" e "Green".
Outra revelação do disco é "Leave", registrada em uma passagem de som. Uma lenta introdução instrumental é rasgada por efeitos eletrônicos e guitarras nervosas.
As faixas gravadas em estúdio não desapontam. "How the West Was Won..." apresenta soluções harmônicas inusitadas, enquanto a melancólica "New Test Leper" poderia ser faixa de "Automatic".
"Be Mine" é a canção mais delicada do disco -apenas um baixo e uma guitarra sutil acompanham os vocais quase sussurrados.
Ao vivo, o resultado é mais agressivo. A crueza dá o tom em "The Wake-Up Bomb", rock furioso sobre a estrada, e "Departure", com riffs à la Iggy Pop.
O toque final é dado por "Zither", gravada no camarim -ousadia só permitida aos grandes.

Disco: New Adventures in Hi-Fi
Banda: R.E.M.
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 20 (o CD, em média)

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