São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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Biografias

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Para escapar da beatificação de Ernesto Geisel, ontem na televisão, era preciso sair do Brasil.
Só na CNN para ouvir que ele foi, por exemplo, um personagem em 1964.
- Foi um dos conspiradores do golpe de 1964, que permitiu instaurar uma ditadura militar por 21 anos.
No Brasil, Ernesto Geisel foi quem, para a Bandeirantes, por exemplo, "iniciou a marcha de saída do regime militar". E não -nem se chegou a recordar- de entrada do regime militar.
Em toda parte foi assim, nas redes brasileiras.
O SBT alcançou extremos de emoção, ao encerrar a biografia citando o encontro do ex-presidente com o atual, ano passado no Rio:
- Um professor que foi perseguido pela ditadura e um general que brigou pela volta da democracia. A abertura deu certo.
Na sequência, ainda mais cerimonioso:
- O ex-presidente Geisel foi um estadista.
Na Globo não foi diferente, claro. A biografia chegou a dar cores épicas à atuação do general-presidente:
- Foi um período de grandes projetos. A hidrelétrica de Itaipu e a Ferrovia do Aço tiveram início no governo Geisel. O momento era difícil. Fim do milagre econômico, a crise do petróleo e o aumento da dívida externa. Mas nada disso o impediu de levar adiante as obras e reafirmar sua autoridade.
Ainda mais definitivo:
- Foi assim o responsável pelo início da abertura política, que conduziria à redemocratização.
Bandeirantes, SBT, Globo, Manchete, até a CNT, todas as redes apresentaram, de qualquer maneira, uma biografia com nuances.
Se o perfil resumido para a história foi do homem que iniciou a abertura, não faltaram registros do tipo "mas também recorreu a medidas de exceção", ou ainda, "mesmo assim, cassou mandatos e direitos políticos".
Na descrição do Jornal Nacional, foi personagem de ações "distintas", entre democratização e repressão.
No momento em que se faz a primeira avaliação de seu papel na história, contudo, escolheram sublinhar o democrata, o estadista.
Quer dizer, isso no Brasil. Pelo mundo, a CNN foi na corrente contrária.

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