São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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Caras-pintadas dão apoio ao Reage SP

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova geração dos caras-pintadas aderiu ao movimento Reage São Paulo. Com os rostos marcados de tinta branca, cerca de mil estudantes do bairro de Moema (zona sul de São Paulo) participaram de uma passeata ontem em protesto contra a violência na cidade.
Alunos do Colégio e Faculdade Tabajara, da Unib (Universidade Ibirapuera) e do Colégio Maria Montessori, além de parentes de jovens assassinados nos últimos dias, se uniram na caminhada.
Eles saíram da sede da Unib, na avenida Iraí, e foram até o largo de Moema, onde se concentraram para os discursos. A maioria dos participantes usava roupa branca e a fita símbolo da campanha.
A iniciativa da passeata foi do estudante Felipe Nisi Nogueira, 11, aluno da 5ª série da Escola Tabajara. Ele sugeriu para as diretoras que fizessem uma manifestação de apoio ao Reage São Paulo.
"Se todo mundo colaborasse, não precisaríamos fazer passeata e nem de polícia nas ruas", disse.
Ele conta que já presenciou dois assaltos. Em um deles, foi trancado no banheiro do consultório de seu dentista. "Tenho medo de sair na rua. Prefiro ficar em casa vendo televisão", afirma o garoto, que mora no Jabaquara (zona sul).
Pressão
Para a idealizadora do Reage São Paulo, Albertina Café e Alves, 48, "toda adesão é importante, pois aumenta a pressão pelas reivindicações junto às autoridades".
Ela é tia da estudante Adriana Ciola, morta no dia 10 de agosto, aos 23 anos, durante assalto ao bar Bodega, em Moema.
Segundo Alves, os jovens estão se identificando com os caras-pintadas -que saíram às ruas em 92 para pedir o impeachment do então presidente Fernando Collor- e querendo exercer sua cidadania.
"O que ainda me preocupa é que, a cada dia, aumenta o cordão dos que lamentam a dor de um ente querido que foi brutalmente assassinado", diz Alves.
Para Ramón Sivila, 56, pai do estudante Wanderley Sivila Cardoso, assassinado na noite do último sábado, aos 23 anos, a melhor forma de combater a violência é investir na educação dos jovens.
"A juventude tem de criar o país dos nossos sonhos", diz. Wanderley foi alvejado por um tiro durante suposta discussão no trânsito, na esquina das ruas Cubatão e Doutor Rafael de Barros, no bairro do Paraíso.

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