São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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Emissoras de TV topam tudo por dinheiro

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Com poucas e honrosas exceções, é melhor morrer atropelado por uma betoneira do que ligar a TV aos domingos. Aliás, aos sábados também, pela chatice da programação. Mas essa é outra história.
Vamos nos ater ao domingo, que está dando o que falar. Sobre o "Sai de Baixo" com participação especial de Dercy Gonçalves, a impressão que tive ao ver o programa foi que as únicas pessoas que estavam se divertindo com a melancólica exibição de senilidade da outrora engraçadíssima humorista eram a própria e o Miguel Falabella. Ela porque não sabe o que faz e ele por estar para lá de calejado com show de inferninho da galeria Alaska.
O resto do elenco, Aracy Balabanian e Luiz Gustavo em especial, ficou tão mudo e constrangido quanto a platéia, que só soltou uma gargalhada histérica na hora em que Dercy resolveu dar uma de Isaac Newton e provar, usando os seios, que a Lei da Gravidade é mesmo implacável.
O caso Dercy é realmente episódico, como disse o Boni. Foi uma pisada no tomate da direção do programa e só prova que o "Sai de Baixo" já está precisando apelar para manter aceso o interesse do público.
Mais grave é o que se passa nos programas do Gugu e do Faustão. O Gugu, quem diria, está se revelando uma espécie de Luiz Antônio Fleury do Silvio Santos. Engana o público com seu táxi, que carrega atores contratados disfarçados de inocentes passageiros, e usa de tráfico de influência para conseguir do governo concessão de canal de TV. Também enaltece a nobre arte do "michê", com esquetes como o daquela filósofa alemã na banheira e o da dança "típica" da garrafa, e promove na caradura o mundo cão, com entrevistas como a do lobisomem mexicano. Pior só se Gugu chamasse o Zé do Caixão para explicar como abre o zíper da calça...
Faustão pode dar de madalena-arrependida por ter colocado no ar o menino-gabiru imitando o Latino, mas a verdade é que essa baixaria toda das tardes de domingo só acontece em função de um "gadget" diabólico, a maquininha de aferir audiência.
Enquanto o tal do Ibope for mais importante para as TVs do que a qualidade daquilo que vai ao ar, nossas crianças continuarão a ser bombardeadas pelo lixo dos Tiriricas, das aberrações barbadas e das Luizas Ambiéis da vida.

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