São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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AL volta a crescer, mas pouco, diz Cepal

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

A América Latina voltará a crescer neste ano, após o estancamento do ano anterior, mas em níveis insuficientes para permitir "reduções apreciáveis" do desemprego aberto.
A previsão foi feita ontem pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina, organismo das Nações Unidas), no seu relatório com base em dados referentes ao primeiro semestre.
O crescimento deverá ficar em torno de 3% neste ano, contra apenas 0,3% no ano anterior.
Além do crescimento insuficiente, a Cepal aponta "indícios de que se acentua a precarização das condições de trabalho, ao mesmo tempo em que se incrementa o subemprego".
Tudo somado, o organismo internacional afirma que "os atrasos sociais e a acentuada desigualdade que caracterizam a maioria dos países da região não dão mostras de diminuição".
O ritmo de atividades segue um compasso bem diferente nos principais países da área, sempre segundo a Cepal.
Argentina e México dão "sinais de recuperação", que, no entanto, se contrapõem aos indícios de desaceleração detectados no Brasil, Colômbia, Costa Rica e Peru.
No ano anterior, no qual se produziu todo o efeito da crise mexicana do final de 1994, foram justamente México e Argentina que puxaram para baixo o crescimento da América Latina.
O lado mais brilhante do relatório da Cepal é o que diz respeito à inflação. Ao final do primeiro semestre, a taxa média de inflação para os 12 meses anteriores era de 22%, contra 26% em 1995 e 600% no período 90/94.
"É muito provável que, em 1996, o índice médio regional de inflação chegue a seu nível mais baixo desde 1972, embora continue sendo elevado em relação à média internacional", afirma o relatório.
Outro lado luminoso vem dos investimentos privados externos, cujo aumento, depois da retração do ano anterior, "foi um fenômeno inesperado".
A Cepal prevê ingressos líquidos de US$ 50 bilhões em 1996, mais do que o dobro do índice de 1995. É uma cifra próxima aos valores máximos registrados no início dos anos 90.
O instituto da ONU diz ainda que tais investimentos são de mais longo prazo e, portanto, menos voláteis.
Os investimentos diretos, os mais produtivos, devem chegar a US$ 25 bilhões durante o ano.
O lado negativo é o mercado de trabalho. "Apesar da recuperação da economia, o desemprego ainda não começou a cair, depois de ter chegado, em 1995, a seu nível mais alto nos anos 90", afirma a Cepal.
A comissão lamenta ainda que os salários reais (descontada a inflação) tenham se mantido estacionados.
No capítulo Brasil, a Cepal se apóia nos dados oficiais do governo brasileiro e, portanto, não anuncia novidades.
Vale para o país o mesmo aspecto registrado para o conjunto do subcontinente: a inflação aparece como o elemento mais positivo, e o mercado de trabalho, como o mais negativo.
No caso das contas externas, o relatório não revela inquietações com o déficit comercial (mais importações do que exportações).
Por um motivo simples: no primeiro semestre, a brecha na conta corrente (que inclui, além de bens, os demais movimentos de capital) foi de US$ 9,6 bilhões, coberta com investimentos diretos externos da ordem de US$ 5 bilhões, mais da metade do buraco.
Em todo o ano anterior, o ingresso de capitais (US$ 4 bilhões) cobrira apenas 22% do déficit em conta corrente.

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