São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleazar de Carvalho morre aos 84 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro Eleazar de Carvalho, regente-titular da Orquestra Sinfônica do Estado, morreu ontem, às 18h30, de inflamação intestinal, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Tinha 84 anos e sofria de câncer. Em janeiro, se submeteu a uma cirurgia no intestino.
Em julho, piorou e foi internado novamente. No dia 23 daquele mês, recebeu um concerto-homenagem no Sírio Libanês. Há duas semanas, retornou para o hospital, onde permaneceu até morrer.
O corpo será velado hoje, a partir das 8h, no saguão do Teatro Municipal de São Paulo. O enterro está marcado para as 16h, no Cemitério do Morumbi (zona sul da cidade).
Irrequieto
O maestro nasceu em 1912 na cidade cearense de Iguatu. Descendente de índios, divulgou no exterior as obras de Villa-Lobos, Almeida Prado e outros compositores clássicos brasileiros.
Em mais de 50 anos de carreira e de 3.000 concertos, regeu como maestro convidado as principais orquestras do mundo: todas as da França e Inglaterra, a Filarmônica de Berlim, Sinfônica de Boston, Filarmônica de Viena e quase todas as orquestras italianas (incluindo a do Teatro Scala de Milão).
Foi o responsável pela direção artística do Festival de Inverno de Campos do Jordão desde a sua criação, em 1972, até 1987.
Irrequieto, foi expulso de todas as escolas que frequentou quando garoto. Iniciou seus estudos de música na adolescência, tocando tuba na Banda do Batalhão Naval, no Rio.
Matriculou-se por conta própria na Escola Nacional de Música (Rio), onde se diplomou. Também na juventude, cursou odontologia.
Em 1930, deu baixa na Marinha e venceu concurso de músico na Sinfônica do Teatro Municipal do Rio. Faltava muito aos ensaios para treinar regência de óperas. Advertido, pediu demissão.
Foi para o Cassino da Urca e, em seguida, para os Estados Unidos -sem saber falar inglês.
Alunos célebres
Estreou no exterior em 1947, à frente da Orquestra Sinfônica de Boston, regendo a "Sinfonia Fantástica", de Berlioz, e depois sinfonias de Mahler e Beethoven.
Lecionou regência no Berkshire Music Center (Tanglewood, EUA) entre 1951 e 1965. Teve, entre seus alunos, maestros célebres como Zubin Mehta, Claudio Abbado, Seiji Ozawa, Gustav Meier e Diogo Pacheco.
Sua estréia na Europa ocorreu em 1950 no Palais des Beaux-Arts, de Bruxelas.
Membro da Academia Brasileira de Música e doutor pela Washington University, possuía inúmeras condecorações, inclusive a da Legião de Honra, da França.
Nos últimos anos, estava empenhado na construção da Fundação Educacional, Cultural e Artística em Itu (interior paulista). O maestro a idealizou com base nas universidades americanas.

Texto Anterior: Milton Hatoum lê trechos de seu texto inédito na PUC-SP
Próximo Texto: O maestro e a harpa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.