São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996 |
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Passos no inverno
ANTONIO CARLOS DE FARIA Rio de Janeiro - Moradores vizinhos aos morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho descrevem imagens de guerra urbana semelhantes às dos conflitos da ex-Iugoslávia.Naquele canto da Europa, a guerra é o extravasamento de pressões históricas. Nos morros entre Copacabana e Ipanema, as batalhas entre traficantes são uma prova da falência do Estado. Os grupos de traficantes não têm a aura de guerrilheiros insubordinados contra injustiças sociais. Eles não lutam contra a ordem, mas para galgar melhores espaços dentro dela. Cabe ao Estado conter esse ramo de negócios, no qual a concorrência selvagem não é metafórica. Durante três noites da última semana, grupos rivais trocaram tiros disputando os pontos de venda de drogas nas duas favelas. Ninguém pôde dormir, tal o barulho da artilharia. Mas o barulho não incomodou os governantes. A polícia só tomou providências efetivas no final do terceiro dia. Parece que a tática foi a de esperar que os traficantes esgotassem suas forças, deixando-os se matar e só então intervir. O oposto da inércia da polícia é a violência indiscriminada da qual ela é capaz. A polícia não deve invadir e ocupar favelas, simplesmente deve estar lá, presente a qualquer momento, como se espera que faça em qualquer ponto da cidade. * Nem tudo é chuva e inverno na cidade de São Sebastião. Quem já teve que fazer a troca de placas do carro pôde sentir uma inesperada eficiência do Detran, que já foi o símbolo mais acabado da deterioração dos serviços públicos. Em cerca de 30 minutos faz-se a vistoria, emissão de novos documentos e emplacamento, tudo sem pagamento de propinas, sem intermediação de despachantes. É um passo, faltam muitos, mas é um passo. Texto Anterior: R$ 300 milhões Próximo Texto: Gol da República Federativa do Brasil Índice |
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