São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Geisel é enterrado com honras militares

DAS SUCURSAIS DO RIO E DE BRASÍLIA

O corpo do presidente Ernesto Geisel, morto aos 88 anos, foi enterrado às 10h51 de ontem, no cemitério São João Baptista (Botafogo, zona sul do Rio), com honras militares de chefe de Estado.
A família dispensou a presença do carro blindado Urutu no cortejo que levou o corpo do Palácio Laranjeiras (zona sul), onde foi velado, ao cemitério.
Segundo um amigo da família, a dispensa foi para evitar "abrir velhas feridas".
O Urutu foi usado em atos repressivos a manifestações civis durante o regime militar.
O corpo do presidente foi transportado por um carro funerário comum e enterrado em uma sepultura simples, na aléia principal do cemitério.
Antes da saída do cortejo do palácio, foi rezado um culto luterano, a portas fechadas, pelo pastor Mozart Noronha, da Igreja Luterana Bom Samaritano, de Ipanema (zona sul), que era frequentada por Geisel e família.
Além de parentes e amigos, participaram do culto o vice-presidente Marco Maciel, ex-colaboradores de Geisel, senadores e militares.
A cerimônia de enterro foi rápida, acompanhada por cerca de cem pessoas.
O ex-vice-presidente Aureliano Chaves chorou ao falar a jornalistas sobre o presidente.
"Acho que cada brasileiro, à medida em que se debruçar sobre a vida do presidente Geisel, vai ver repetidos exemplos de amor a este país", disse.
No momento em que foi executado o toque de silêncio e o caixão começou a baixar à sepultura, a única filha do presidente, Amália Lucy, teve uma crise de choro e se afastou, amparada por familiares.
Ela deixou o cemitério segurando a bandeira do Brasil que envolvera o caixão até a sepultura.
FHC
O presidente Fernando Henrique Cardoso pediu em cerimônia ontem "licença ao país" para expressar pesar pela morte de Geisel.
"Todos os brasileiros que acompanharam de perto a evolução da vida política no Brasil sabem o que foram a luta e a dificuldade enfrentadas pelo presidente Geisel para conter a repressão no Brasil. E quem fala é alguém absolutamente isento, porque não apoiei o governo, pelo contrário", disse FHC.
Segundo o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, FHC não compareceu ao enterro porque tinha de participar da solenidade de sanção da lei que estabelece o fim da cobrança do ICMS sobre as exportações, ocorrida ontem.
Anteontem, FHC e Maciel divulgaram notas oficiais sobre a morte de Geisel que continham avaliações diferentes da atuação do general na Presidência.
Na nota do vice-presidente, a vida pública de Geisel é classificada como "um incontestável tributo à restauração democrática".

Texto Anterior: 'Conservadores' pesam na sucessão de cardeal
Próximo Texto: Ministro de Geisel defende privatização da Petrobrás
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.