São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Vicentinho critica ação dos sem-terra

CUT é contra invasão de prédio público

ABNOR GONDIM; DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, criticou ontem o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) por invadir prédios públicos e utilizar servidores como reféns.
"Invadir prédios públicos não é a maneira mais eficiente de conseguir a reforma agrária", disse Vicentinho.
"O ser humano tem que ser respeitado em sua plenitude", afirmou ele.
As críticas do sindicalista foram feitas após audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com o ministro Raul Jungmann (Política Fundiária).
Vicentinho apelou ao ministro para retomar negociações com o movimento.
Jungmann disse que só reabre o diálogo com os sem-terra se não houver novas ocupações de prédios públicos nem constrangimentos aos servidores do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Vicentinho disse que iria conversar com Gilberto Portes, coordenador do MST, sobre a posição de Jungmann.
A Folha não localizou Portes ontem.
Pontal
O ministro afirmou que a polícia de São Paulo deve prender os fazendeiros do Pontal do Paranapanema (oeste do Estado) que querem usar armas contra novas ocupações dos sem-terra.
A iminência de conflitos no Pontal será discutida pelo ministro na segunda-feira com o secretário da Justiça de São Paulo, Belisário dos Santos Júnior.
"É um caso de polícia. Tem que ser preso quem resolver usar a violência em desrespeito à democracia", disse Jungmann.
O ministro anunciou que o Incra vai colaborar com o governo de São Paulo para evitar conflitos e novas ocupações de terras na área.
Impunidade
A ameaça dos fazendeiros do Pontal do Paranapanema foi um dos assuntos tratados durante as audiências.
Para o presidente da CUT, o caso do Pontal é reflexo do clima de impunidade predominante após o morte de 19 sem-terra em confronto com a Polícia Militar em Eldorado do Carajás (leste do Pará), ocorrido em abril.
Vicentinho anunciou que vai cobrar do governador do Pará, Almir Gabriel (PSDB), a punição dos PMs que participaram da ação em Eldorado do Carajás.
O presidente da CUT disse ainda que pedirá a Gabriel a apuração do caso de Rejane Guimarães, líder rural morta neste mês por um pistoleiro.
Também participou da audiência com FHC e com o ministro Jungmann o presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Francisco Urbano.
O governo já desapropriou 122 áreas reivindicadas pela Contag.
(ABNOR GONDIM e DANIELA FALCÃO)

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