São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Tráfico desorganizado favorece crack

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A facilidade de manuseio e de produção do crack, associadas à desestruturação do tráfico de drogas em São Paulo, favorecem a expansão da droga na cidade.
A conclusão é do pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP Guaracy Mingardi, que apresentou ontem, no último dia do simpósio "Drogas: Debate Multidisciplinar", um estudo sobre a estratificação do tráfico de drogas em São Paulo.
"O crack está associado à desorganização do tráfico de drogas em São Paulo pelo fato de essa droga ser de fácil manuseio e produção. Ela acaba sendo difundida mais facilmente", disse Mingardi.
Segundo ele, um quilo de pasta-base da cocaína -matéria-prima do crack- custa cerca de R$ 1.200 na Bolívia, enquanto o quilo da cocaína refinada sai entre R$ 2.000 e R$ 3.000 no mesmo país.
Além de o crack ser mais barato que a coca, ele é muito mais fácil de ser produzido a partir da pasta-base de coca, porque não necessita ser refinado.
Por causa disso, em São Paulo proliferam produtores e traficantes de pedra de crack, desestruturando o narcotráfico.
"Faltam as bases das organizações criminais tradicionais, como hierarquia, divisão do trabalho, monopólio da mercadoria e controle de uma região", afirmou o pesquisador.
Segundo ele, grande parte da droga é comercializada no Estado por microtraficantes, que são usuários que têm capacidade para comprar até dez gramas de droga para revender.
Depois vêm os pequenos traficantes. Eles conseguem comprar dez quilos de cocaína (entre R$ 20 mil e R$ 30 mil) e têm três ou quatro "funcionários".
Em menor escala, estão os médios traficantes, que compram até 200 kg de coca, por exemplo, e revendem a droga no Brasil.
Normalmente, esses traficantes compram a coca na Bolívia, depositando dinheiro nas contas dos traficantes bolivianos, que mandam a droga por avião.
Por último, o pesquisador identificou um grande grupo de tráfico, organizado para vender a droga na Europa.
Esse grupo, segundo ele, está organizado em uma cidade no interior do Estado abastecida por duas rodovias e por um aeroclube estruturado -condições que favorecem o escoamento da droga.
"O grupo tem participação de político, de um grande empresário, de três pilotos de avião e de outras dez pessoas", disse Mingardi.

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