São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Marcha separatista começa com 200 na Itália

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O líder separatista italiano Umberto Bossi iniciou ontem sua Marcha para o Mar, ao longo do rio Pó, o maior da Itália, que deve acabar amanhã em Veneza com a proclamação da independência do norte do país.
Solenemente, Bossi encheu uma vasilha de cristal veneziano com água da nascente do rio, no vilarejo de Pian del Re, nos Alpes (norte): "Esta água é transparente como nosso projeto, a independência da Padânia. Estamos à beira de um ato histórico, a grande batalha pela libertação".
O projeto de Bossi é menos épico do que aparentam suas palavras. A proclamação da República da Padânia não tem nenhum efeito legal e conta com baixo apoio, mesmo no norte do país -pesquisas mostram que a maioria da população quer o país unido, mas com maior autonomia para as regiões.
Ela se baseia na alegação de que o norte da Itália, mais rico, é prejudicado pelo centralismo do governo de Roma e tem de dividir seu progresso com o sul, mais pobre.
A cerimônia de ontem, a 2.040 m de altitude, foi acompanhada por cerca de 200 pessoas, entre as quais os jornalistas. Bossi, líder do partido Liga Norte, espera 1 milhão de pessoas em Veneza, amanhã.
Ele planejava chegar de helicóptero a Pian del Re, mas os fortes ventos impediram. Foi de carro.
Bossi vestia um cardigã e levava uma fita cor-de-rosa no peito. O adereço tem valor simbólico. Os italianos costumam pendurá-lo na porta de suas casas quando nasce uma criança.
Em Turim, houve choques entre 700 jovens de extrema esquerda e partidários de Bossi. A polícia os conteve com gás lacrimogêneo.
"Penso em 2096, quando milhares de pessoas se reunirão aqui para comemorar o centenário da Padânia", disse o deputado Giancarlo Pagliarini.
Outros grupos políticos não têm a mesma certeza de Pagliarini. Irene Pivetti, que presidiu a Câmara dos Deputados e foi expulsa da Liga Norte anteontem por defender o federalismo em vez da secessão, disse que os métodos de Bossi "causam náuseas".
O primeiro-ministro Romano Prodi, federalista, disse que a independência "não tem raízes no passado nem futuro".
Protesto pornô
Em Roma, três atrizes pornô -inclusive uma brasileira que disse se chamar Valentine Demy- chamaram a atenção em um protesto contra a secessão em frente à Câmara.
A húngara Eva Henger, pintada de verde, vermelho e branco (as cores da Itália), tirou a roupa, enquanto Demy e a italiana Lorena Ferrari, com os seios à mostra, estenderam um cartaz com os dizeres "nada é mais obsceno que o separatismo".

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