São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Bagdá 'vai ao telhado' ver ataques

DA "REUTER", EM BAGDÁ

Os iraquianos foram ontem ao mercado de pulgas Bab al Charji, em Bagdá, despreocupados com um possível ataque dos EUA.
Enquanto rádios, móveis, bicicletas, roupas e tapetes espalhados no chão eram comercializados, a maioria dos entrevistados disse que subiria aos seus telhados para observar as bombas guiadas por laser serem lançadas sobre Bagdá.
No mercado, carrinhos carregados com fogões de querosene, ovos e verduras ofereciam sanduíches. Pequenos garotos com caixas de isolamento térmico vendiam bebidas, e mulheres vendiam cigarros nas esquinas das ruas.
Um policial de trânsito observava os vendedores de seu carro. "Ninguém parece estar com medo de Clinton. É como qualquer outro dia", afirmou, sobre as ameaças do presidente dos Estados Unidos.
Quase não havia menção sobre um ataque iminente dos EUA, que poderia incluir bombardeios contra alvos dentro e em torno de Bagdá. Os ataques poderiam ser lançados pelos aviões "invisíveis", que chegaram no Kuait ontem.
"Eles (os kuaitianos) mostraram sua face terrível novamente. Nós tiramos os americanos do Curdistão, no norte. Eles os convidaram para nos atacar pelo sul. Isso não é uma boa vizinhança", disse Ihsan Abdulkareem, vendendo livros de sua biblioteca particular para sobreviver.
Nacionalismo
A vitória dos novos aliados de Saddam Hussein (o Partido Democrático do Curdistão) sobre os rivais da União Patriótica do Curdistão no norte do país levou a um ressurgimento do nacionalismo.
A nova onda nacionalista ocorre apesar de todas as dificuldades econômicas causadas pelas sanções impostas pela ONU desde que o país invadiu o Iraque, em 1990.
A notícia sobre a "libertação do norte em relação aos espiões americanos" e as medidas de Saddam para reintegrar a região curda -fora de seu controle por mais de cinco anos- são constantemente divulgadas pela TV e rádio estatais. Para o homem na rua, Saddam voltou a ser um herói.
"Deixe-os (americanos) mandar mais aviões e navios. A mudança na realidade em terra aqui no Iraque não está mais ao alcance dos americanos", afirmou um palestrante universitário.
Na tarde de ontem, dezenas de milhares de pessoas foram para mesquitas para rezar. Não havia sinal de preparação de um ataque.

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