São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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DOM PAULO

Dom Paulo Evaristo Arns, o cardeal arcebispo de São Paulo, completa hoje 75 anos, idade da aposentadoria compulsória, de acordo com as regras do Vaticano.
Sua permanência à frente da Arquidiocese depende exclusivamente de uma decisão do papa. Mas todos os indícios disponíveis apontam para uma rápida substituição do prelado que há um quarto de século é o líder espiritual dos católicos de São Paulo.
Nesse longo período, dom Paulo pautou a sua atuação pela firme defesa do respeito aos direitos humanos. Uma frase sua na entrevista publicada quarta-feira por esta Folha é definitiva a respeito: "Não posso desistir de algo essencial ao cristianismo: defender os que não têm defesa".
Foi justamente no ano em que o arcebispo assumiu (1970) que se exacerbou a violação aos direitos humanos, ampliando o número dos que não tinham defesa.
Dom Paulo Evaristo Arns estendeu a eles, então, o manto protetor da igreja, talvez o único restante em um momento em que as liberdades públicas estavam totalmente congeladas, para dizer o mínimo.
Além de tentar salvar almas, função que o catolicismo atribui aos seus pastores, salvou vidas. É um registro factual que dignifica o prelado.
Mais polêmico foi o envolvimento da igreja que dom Paulo comanda na esfera propriamente política. Embora tenha dito, na citada entrevista, que jamais leu inteiro um livro sequer da Teologia da Libertação (que aplica critérios marxistas à leitura da realidade), o fato é que o cardeal ganhou o rótulo de esquerdista, que mantém até hoje.
Com isso, dividiu os fiéis entre os que consideram que a igreja deve limitar-se à sacristia e os que entendem que ela tem a obrigação de envolver-se com o temporal.
A saída, que se supõe iminente, de dom Paulo da Arquidiocese se dá em um momento em que o papel político da igreja se reduziu ao mínimo, graças à restauração total das liberdades públicas, exatamente o motivo pelo qual o cardeal se tornou mais conhecido e mais respeitado.
Sua biografia autoriza a dizer que a aposentadoria de dom Paulo será sentida pela grande maioria da população de São Paulo.

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