São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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São Paulo saúda d. Paulo

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Quem circula, hoje, pela capital paulista há de encontrar grandes cartazes com os dizeres do título deste artigo e a fotografia de d. Paulo Evaristo Arns, que sorri e com seu olhar parece encontrar o nosso olhar.
Não é apenas a cidade de São Paulo, é todo o Brasil, que expressa a saudação ao cardeal que acaba de completar 50 anos de sacerdócio e 25 anos de arcebispo e, hoje, dia 14 de setembro, festeja 75 anos de vida.
Agradecemos a Deus a fé transmitida por seus pais, dona Helena e sr. Gabriel Steiner Arns, o afeto de sua família, a vocação franciscana, o amor aos pobres nas sete favelas de Petrópolis e a inquebrantável esperança que tem marcado sua vida e seu pastoreio, fruto da confiança em Deus e Nossa Senhora.
Sua cultura é bem conhecida, como demonstram os milhares de artigos nas mais variadas revistas e as dezenas de livros.
Doutor em patrística e letras clássicas pela Sorbonne, recebeu posteriormente 61 títulos nacionais e internacionais, colocando em relevo sua incansável atividade na promoção da paz.
D. Paulo Evaristo revelou-se, desde cedo, pastor zeloso de sua arquidiocese, sabendo ouvir os clamores do povo, atento às situações de miséria, violência, injustiças e às necessidades espirituais da maior cidade da América do Sul. Num gesto profético, vendeu o palácio no centro da cidade e conseguiu assim adquirir dezenas de pequenos terrenos para novas comunidades.
Viu crescer, aos poucos, o povo da rua e procurou ampará-lo com centros de convivência e abrigos. Criou a pastoral para crianças e adolescentes empobrecidos. Promoveu os direitos humanos, interessando-se pela moradia, pelo trabalho, saúde, educação.
Surgiram várias pastorais especializadas em bem da mulher marginalizada, dos encarcerados e, em especial, dos portadores de HIV.
Todo esse enorme esforço em favor da promoção humana é fruto do incansável empenho pela evangelização, por meio da catequese e liturgia, procurando anunciar a mensagem do amor misericordioso de Deus e da fraternidade entre todos.
Tornou-se possível esse trabalho pela capacidade de liderança e pelo afeto paterno com o qual soube comunicar seu zelo a serviço da igreja e unir a seu lado os bispos, presbíteros, diáconos, homens e mulheres consagrados e membros das comunidades.
Há marcas que sobressaem. Além da fidelidade à doutrina, da solicitude pelos mais pobres, o diálogo com irmãos de outras crenças, atuação constante nos meios de comunicação, é preciso lembrar sua coragem na defesa da dignidade da pessoa. Sofreu ao lado dos perseguidos nos anos de tortura e violação dos direitos humanos. Quem não se recorda da presença de d. Paulo nos momentos de sofrimento, por ocasião do assassinato de Santo Dias, Vladimir Herzog e Alexandre Vannucchi?
Nos últimos dias um órgão da imprensa publicou artigo reduzindo de modo lamentável uma longa entrevista concedida por d. Paulo.
Não é do seu feitio defender-se. Todos que o conhecemos e sabemos o apreço e obediência filial que dedica ao Santo Padre desejamos expressar-lhe, ainda mais, estima. Na data de seu aniversário, unamos nossas preces pelo pastor amigo e destemido, d. Paulo Evaristo profeta da esperança.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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