São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Compromisso com a estabilidade

FERNANDO REZENDE

A abertura das urnas na última eleição presidencial revelou a todos nós um insuspeitado grau de maturidade política do povo brasileiro.
O povo disse não a promessas vazias, a atitudes demagógicas, a discursos políticos em descompasso com as novas realidades doméstica e internacional. Disse sim a fatos concretos, a resultados de bem-sucedidas políticas de combate à inflação e de restauração da confiança nas potencialidades do país e em um futuro melhor para todos os brasileiros.
A reeleição dará oportunidade para que a nação brasileira manifeste mais uma vez a sua vontade. Para os que criticam a atual condução da política econômica, nada mais oportuno e democrático do que transferir ao povo a responsabilidade do veredicto. Para os que a apóiam, aumenta a responsabilidade de continuar agindo em conformidade com os princípios e diretrizes que mereceram a consagradora aprovação popular.
Não há, pois, possibilidade de a tese da reeleição conduzir a uma mudança de rumos da política econômica.
Qualquer alteração será imediatamente percebida como uma quebra do compromisso tacitamente firmado em 1994 com respeito à sustentabilidade das políticas de restauração da confiança na moeda e de melhoria do poder aquisitivo da grande maioria dos brasileiros. De nada adiantaria mudar o curso para aprovar a reeleição, pois isso significaria perder a eleição.
Cabe relembrar os fatos que mudaram a realidade política do país e impedem a adoção de práticas ultrapassadas. Apenas como resultado da estabilidade monetária alcançada com o Plano Real, a renda média das classes menos favorecidas cresceu 30% após a introdução do real, um crescimento três vezes maior que o verificado na renda dos mais ricos.
Nesse mesmo período, a pobreza metropolitana reduziu-se em 5 milhões de pessoas, e o crescimento do consumo de alimentos e de material de construção apresentou resultados expressivos.
O Plano Real entra, agora, em nova etapa. A consolidação da estabilidade econômica abre espaço à retomada sustentada do crescimento. Estima-se que, a partir de 1997, a economia brasileira possa voltar a apresentar taxas de crescimento de 5% a 7% ao ano, fazendo com que a renda per capita do brasileiro alcance US$ 6.000 em 2010, o dobro do valor atual.
Contra esses fatos não há argumentos. A estabilidade monetária é um ativo político que não pode ser desprezado. Só a garantia de continuidade do compromisso com a estabilidade da moeda e a retomada sustentada do crescimento econômico será capaz de dar à tese da reeleição a credibilidade de que ela necessita para afirmar-se como uma proposta que transcende interesses pessoais para assumir a feição de uma mudança que atende às aspirações nacionais de modernização e desenvolvimento.

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