São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Uma luz no horizonte

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

A grande notícia da semana foi a inflação zero registrada pela maioria dos institutos de pesquisa. Alguns falaram até em deflação.
O bom comportamento dos preços dos alimentos foi o grande responsável pela estabilidade da moeda. A âncora verde está funcionando até mesmo na entressafra, quando os preços da carne e grãos costumam subir.
A nova safra parece promissora. No sul as chuvas chegaram antes do tempo. O mesmo está ocorrendo em Goiás e Mato Grosso. Tudo indica que teremos cerca de 80 milhões de toneladas de grãos para 1997. Os que exportam estão animados com a eliminação do ICMS.
Muito animadoras nesse terreno foram as medidas tomadas pelos ministérios dos Transportes e da Agricultura em favor da abertura de corredores para o escoamento das safras que integrarão rodovias com ferrovias e hidrovias nas regiões noroeste, centro-norte, nordeste e centro-leste. Tratam-se de investimentos no valor de US$ 800 milhões, metade dos quais da iniciativa privada, em andamento.
Já era tempo de uma providência como essa. No mundo inteiro as safras são escoadas pela combinação de ferrovias com hidrovias, apenas auxiliadas pelas rodovias. Entre nós, deu-se o inverso. Nas últimas décadas, só se pensou em estradas de rodagem. A malha ferroviária deteriorou-se.
Entre as novas áreas planejadas, inclui-se a Chapada dos Parecis, onde a produtividade média de grãos (Mato Grosso e Rondônia) chega a 2.700 kg por hectare, enquanto a média nacional é de 2.200 kg. Os rendimentos daquela região podem chegar a 3.000 kg com certa facilidade.
Os especialistas estimam que ali podem ser incorporados cerca de 20 milhões de hectares de terra perfeitamente agricultáveis, o que daria para colher 60 milhões de toneladas de soja -2,4 vezes a produção nacional! (Antonio Licio e Regina Corbucci, "A Agricultura e os Corredores de Transporte Multimodais", 1996).
O potencial agrícola deste país é fenomenal. Um dos grandes entraves, porém, sempre foi o estrangulamento dos transportes. Trazer soja da Chapa dos Parecis até Santos ou Paranaguá, percorrendo 2.200 quilômetros, no "lombo" de um caminhão, inviabiliza qualquer venda.
Uma substancial redução desse custo será obtida ao se transportar as safras daquela região por rodovia entre as zonas de produção e Porto Velho; por hidrovia (Rio Madeira) entre Porto Velho e Itacoatiara-AM; e por via marítima entre o rio Amazonas e o porto de Roterdã. O custo do transporte cairá mais de 50%. O mesmo acontecerá nos corredores das regiões centro-norte, nordeste e centro-leste.
Com a eliminação do ICMS sobre os produtos agrícolas, estamos falando em ampliar o emprego, gerar mais renda e atender o social. Este país não tem futuro se não for capaz de empregar a sua gente! Vamos rezar para que este plano saia do papel, pois uma vez realizado merecerá o respeito das outras nações desenvolvidas do planeta.

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