São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
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Produções independentes predominam

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nada de grandes estrelas, épicos retumbantes ou efeitos especiais. As produções independentes sobre gente de carne e osso dão o tom da Mostra Rio neste ano.
O inglês "Segredos e Mentiras", de Mike Leigh, que abre a mostra, é um drama envolvente sobre todas aquelas histórias mal contadas de família que causam um estrago medonho quando vêm à tona.
Como quem não quer nada, Leigh flagra cada personagem em seu casulo e depois junta todos num desenlace catártico em que se lava uma tonelada de roupa suja. O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
Pequenos dramas pessoais marcam também "Ponto de Encontro", estréia do ator Steve Buscemi na direção. O humor e uma certa poesia baldia amenizam o baixo astral desse relato do dia-a-dia etílico de um mecânico fracassado. É o mais forte candidato a "cult".
"Ajuste de Contas", do italiano Mimmo Calopresti, é um drama frio sobre um tema quente: o rescaldo da onda de terrorismo que abalou a Itália nos anos 70.
Um professor, vítima de um ataque terrorista que lhe deixou uma bala alojada na cabeça, vai ajustar contas com a autora do tiro.
O cinema norueguês aparece com dois títulos fortes: "Kristin", de Liv Ullman, e "Zero Kelvin", de Hans Petter Molland.
O primeiro é uma atribulada história de amor ambientada na Idade Média, numa época em que o cristianismo ainda enfrentava fadas e divindades pagãs.
Ao contar a história de um poeta, um cientista e um ex-marinheiro que caçam morsas e raposas na Groenlândia, "Zero Kelvin" mostra que o homem, no contato com a natureza, não vira santo: vira bicho.
Por fim, não poderia faltar a última pirotecnia do britânico Peter Greenaway, "Livro de Cabeceira", desta vez situada no Oriente.
Apesar de usar efeitos eletrônicos para mostrar várias cenas ao mesmo tempo, o filme conta de forma linear a história de uma bela japonesa que escreve livros no próprio corpo e no dos amantes.
É uma homenagem às vezes enfadonha, mas visualmente deslumbrante à tradição do ideograma, essa arte em que se fundem a palavra e a imagem.

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