São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
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Obra de Kieslowski abre ciclo polonês

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Mostra do Cinema Polonês" pode ser um nome pomposo para o ciclo que a Sala Cinemateca exibe de hoje até 23 de setembro. São apenas cinco filmes, muito pouco para abranger uma cinematografia rica como a polonesa.
Mas há compensações. Os cinco filmes são comercialmente inéditos no Brasil e três deles são feitos por cineastas consagrados ou conhecidos (Krzysztof Kieslowski, Krzystof Zanussi e Agnieszka Holland).
No mais, vale a pena enfrentar a cópia precária e com legendas em espanhol: "Amador" -que abre o ciclo hoje, às 17h- tem méritos que compensam esses problemas.
"Amador" ("Amator", no original) oferece ao cinéfilo a oportunidade de apreciar facetas não tão conhecidas de Kieslowski, como sua crítica ao regime socialista instalado na Polônia.
O filme é de 1979 e trata de Mosz, um homem que, para registrar o nascimento de sua filha, compra uma câmera de cinema. O diretor da empresa em que trabalha resolve que Mosz deve filmar as comemorações do aniversário da empresa.
Seu trabalho consegue repercussão nas esferas culturais, o que o leva a fazer um filme sobre a vida de um operário. É quando ele começa a ter problemas com os burocratas.
Não é ainda o Kieslowski magistral que se conhece. O início do filme, sobretudo, é bastante irregular. A crítica ao sistema é delicada (o cineasta era gato escaldado, já tivera filmes censurados), embora clara.
No mais, poderia se aplicar também a um país capitalista: o criador de imagens sempre enfrenta censuras, de um modo ou de outro.
A parte forte do filme é a que diz respeito à reflexão do cineasta sobre sua atividade. Mosz filma com o mesmo afã que James Stewart fotografa em "Janela Indiscreta".
Não é um acaso: a idéia do cineasta como "voyeur" é uma das várias que Kieslowski desenvolve a partir de Hitchcock. Os desdobramentos são interessantes, já que, por eles, o cineasta nos introduz ao registro do suspense (que desenvolveria em "Não Amarás").
Kieslowski parece só entender o cinema como paixão. Pior: uma paixão trágica, excludente. Se o ponto de partida de tudo é a família, o cinema envolve Mosz a tal ponto que ele terminará por deixá-la em segundo plano.
A obsessão por captar a realidade (sempre insatisfeita, naturalmente) termina por desviá-lo de sua vida original, corriqueira, mas, eventualmente, mais feliz.
Completam o ciclo o primeiro longa de Agniszka Holland, "Atores de Província" (1979), "Iluminação" (1973), de Krzystof Zanussi (ganhador do grande prêmio no Festival de Locarno/1973), "O Dilúvio" (1974), de Jerzy Hoffman, produção que remete ao século 17 polonês, e "Borboletas" (1972), de Janusz Nasfetor.

Ciclo: Mostra de Cinema Polonês
Quando: de hoje a 23 de setembro, na Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 881-6542, Pinheiros, zona oeste)
Programação: hoje, às 17h, "Amador"; às 19h15, "Atores de Província"; às 21h30, "Iluminação". Amanhã, às 19h25, "Amador"; às 21h30, "Borboletas". Sexta, às 19h30, "O Dilúvio". Sábado, às 15h40, "Borboletas"; às 17h40, "Iluminação"; às 19h25, "Atores de Província"; às 21h30, "Amador". Domingo, às 15h30, "O Dilúvio"; às 19h45, "Iluminação"; às 21h30, "Atores de Província". Segunda, às 17h, "Borboletas"

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