São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
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Ofensiva de Saddam encerra a guerra civil curda

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM ARBIL

"Fiquei surpreso. Todos ficamos surpresos", diz Massoud Barzani, o líder curdo, sobre a velocidade da sua vitória sobre a rival União Patriótica do Curdistão (UPC). De repente, a guerra civil curda acabou, e o Curdistão iraquiano está unido sob um partido curdo pela primeira vez.
É um resultado que ninguém esperava, muito menos Saddam Hussein, que provavelmente calculava que, ao mandar tropas para Arbil, duas semanas atrás, salvaria Barzani da derrota e manteria a guerra civil. Essa situação teria permitido a ele ser a principal força no Curdistão, aumentando sua influência ao jogar um partido curdo contra o outro.
A mais importante mudança no mapa político da região este mês é que isso não aconteceu. Agora, só sobrou um partido curdo.
Andando pelas cidades curdas, há poucos telhados que não ostentem a bandeira amarela do vitorioso Partido Democrático do Curdistão (PDC). Mesmo após a queda de Arbil, no dia 31 de agosto, não havia razão para as forças da UPC, ainda mantendo a cidade de Suleimania e outros povoados, parar de lutar. "Eles tinham posições das quais poderiam nos conter lançando pedras", diz um membro do PDC. Barzani disse ao "The Independent" que suas forças perderam apenas 150 homens e que 500 ficaram feridos.
A principal razão para a retirada foi que a UPC, desesperada para que o Ocidente a ajudasse com bombardeios aéreos após a queda de Arbil, anunciou nas suas emissoras de rádio e TV que o Exército iraquiano estava invadindo o Curdistão. Nem todos estão convencidos disso. "Será que a UPC, que conseguiu lutar por tantos anos, vai nos dar só isso?", se pergunta um observador estrangeiro.
A maioria dos curdos acredita que a volta do partido derrotado será muito difícil. Sobre as chances de a guerra recomeçar, Barzani diz: "Se algo acontecer, será porque os iranianos estão armando a UPC". Os guerrilheiros próximos à fronteira iraquiana concordam.
Na vastidão das montanhas do Curdistão, pequenos grupos guerrilheiros podem sobreviver e lutar, mas isso requer moral alto e resolução. A expressão "peshmerga" (guerrilheiro) significa literalmente "aquele que enfrenta a morte", mas, no último mês, muitos recrutas -que ganham o equivalente a pouco mais de US$ 30 por mês)- não se dispuseram a morrer.
Isso para não dizer que os 3,5 milhões de curdos, inclusive os membros do PDC, não se sentiram muito tocados com a aliança entre Barzani e Saddam -ainda que ela seja breve e tática. Em visita a um museu em Arbil, o diretor, preocupado, me puxou a um canto e, colocando os dois indicadores lado a lado, perguntou: "Saddam e Massoud são assim? Eles estão juntos? Será que os iraquianos vão voltar? Estou assustado". Mas enquanto as tropas iraquianas não entrarem no Curdistão e Barzani conseguir manter a paz e as melhores condições de vida, a maioria dos curdos está disposta a apoiá-lo.

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