São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
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Infidelidade aos fatos; Infância lesada; Revista para os negros; Ação contra a violência; Álcool

Infidelidade aos fatos
"Com relação à reportagem publicada em 14/9, que suscitou a manchete 'Vicentinho critica ação de sem-terra' na primeira página, informo que a reportagem omitiu, mentiu e deturpou os fatos.
1 - Omitiu a pauta da reunião ocorrida pela manhã, com o ministro Raul Jungmann, explicada com detalhes em entrevista coletiva.
O que foi discutido: a cobrança quanto à violência no Pará, a impunidade no caso dos trabalhadores rurais em Eldorado do Carajás e o recente assassinato da companheira Rejane Guimarães.
A preocupação com a iminente escalada da violência no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, com o armamento de fazendeiros da região.
A defesa do superintendente do Incra na Paraíba, sr. Júlio Cesar.
A cobrança efetiva de medidas concretas para fazer avançar a reforma agrária no Brasil.
Cumprindo uma solicitação dos companheiros sem terra (acampados há dias em Brasília), solicitei ao ministro a reabertura das conversações.
Ainda falei aos jornalistas do nosso objetivo de realizar o movimento 'Reage Brasil', com outras entidades da sociedade civil.
Como se vê, quanta omissão!
2 - Mentiu quando entre aspas escreveu 'invadir prédios não é a maneira mais eficiente de conseguir a reforma agrária'. Jamais dei tal declaração, nem sequer dei a entender (aliás, isso não saiu em nenhum outro meio de comunicação).
O que eu disse, em resposta à provocação de alguns jornalistas que tentavam arrancar de mim críticas ao MST, foi que respeito o MST, inclusive sua autonomia, e jamais faria críticas a eles, pois se assim fosse necessário o faria em fóruns apropriados e não pela imprensa.
Um jornalista foi mais direto e perguntou-me se eu concordava com a prisão de pessoas inocentes nas ocupações, causando, assim, constrangimentos.
Respondi que o ministro estava mal informado e que nas ocupações isso não acontecia.
Depois, o jornalista insistiu em perguntar se eu apoiava a violência para com as pessoas e respondi decididamente que desde que fui presidente do Sindicato dos Metalúrgicos no ABC nunca concordei com o constrangimento de seres humanos e jamais concordarei e, nesse caso, tenho certeza que os companheiros do MST também não concordam.
3 - Deturpou quando a reportagem misturou a reunião com o ministro Jungmann e a audiência com o presidente da República.
A reunião com o presidente, à tarde, abordou os tratados internacionais. Dessa reunião participaram sindicalistas de toda a América. No fim da reunião, o líder do grupo - Luís Anderson, secretário-geral da Orit- alertou o presidente sobre a violência no campo e a necessidade da reforma agrária.
Eu e o companheiro Francisco Urbano, presidente da Contag (que foi meu convidado), nos limitamos a entregar um documento com nossas preocupações quanto à violência no campo e a necessidade de medidas concretas para fazer avançar a reforma agrária."
Vicente Paulo da Silva, presidente da CUT -Central Única dos Trabalhadores (São Paulo, SP)

Resposta dos jornalistas Abnor Gondim e Daniela Falcão - A Folha noticiou quatro dos seis pontos da pauta da reunião com o ministro Jungmann e reproduziu textualmente as declarações do presidente da CUT. A reportagem não misturou as audiências isoladas com o ministro e FHC. A discordância sobre a invasão de prédios públicos foi manifestada à saída do Palácio do Planalto na frente dos repórteres.

Infância lesada
"O empresário Oded Grajew foi muito lúcido nos seus comentários sobre o crescimento da violência e a reação a ela, em artigo para a Folha do dia 21/8.
Tem razão quando diz que a reação à violência chega 'em boa hora, embora tardiamente' porque há 'vários anos morrem milhares de crianças pobres'.
Além disso, o empresário denuncia o sucateamento, nos últimos anos, da 'saúde, educação e segurança públicas'. E esse sucateamento foi assistido passivamente pelas classes sociais mais elevadas.
É um crime deixar a educação, a saúde e a segurança padecerem, sem investimentos. As crianças são as que mais sofrem com isso.
Essa violência a que está submetida a criança, sintetizada no abandono e na miséria que se expressa na existência de um número gigantesco de menores de rua, atinge toda a sociedade, voltando-se contra ela como um bumerangue."
Francisco Roque Carrazza, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo -Departamento de Pediatria da Associação Paulista de Medicina (São Paulo, SP)

Revista para os negros
"Ao ler a coluna de Otavio Frias Filho do dia 12/9 tive a oportunidade de ver o seu ponto de vista sobre a publicação 'Raça Brasil', que por sinal está muito bonita.
O fato é que meus colegas (da 'Raça') se enganaram quando disseram que era a primeira publicação voltada aos negros.
No Brasil existem atualmente 12 publicações nesse mesmo segmento, inclusive uma delas me pertence.
É a revista 'Black People', que tem sede no Rio de Janeiro, circula mensalmente em todo o território nacional e está na edição número 5.
Fato que conquistamos com trabalho árduo. Nunca uma revista voltada para o público negro conseguiu atingir a 5ª edição, mantendo a mesma editoria.
Para nós, da 'Black', esse fato não é motivo de vitória, já que o contrário demonstra um Brasil mais integrado nos conceitos sociais.
Tenho certeza que estou expressando também o sentimento de nossos leitores, que espero, sinceramente, também se tornem leitores da 'Raça' -'uma andorinha só não faz verão'.
A 'Black People' é uma revista com capa cuchê, miolo também em cuchê, metade preto e branco e metade cor, publicação mensal de 50 mil exemplares e vendida nas bancas e entregue como cortesia para alguns setores.
Assim como foi feita uma reportagem sobre a 'Raça' (SP), gostaríamos também de usufruir de tamanha importância, mostrando o nosso trabalho, os seus objetivos ideológicos e finalidades. Só assim um mal-entendido será corrigido."
Cátia Lopes de Souza, diretora-presidente da revista "Black People"' (São Paulo, SP)

Ação contra a violência
"Nenhum governador pode evitar o que tem de ser feito pela segurança da cidade e da população!
E na hora presente algo tem que ser feito para conter a onda de violência e de crimes que castiga São Paulo!"
Floriano de Oliveira (São Paulo, SP)

Álcool
"Foi com satisfação que li em 15/9 as reportagens que mostram o álcool como um dos grandes causadores da violência e dos acidentes no Brasil.
Até que enfim um órgão da chamada grande imprensa descobre essa verdade que a sociedade atual hipocritamente estimula.
Espero que a Folha continue na linha da reportagem citada."
Flavio Zenun (Poços de Caldas, MG)

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