São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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Técnico faz críticas para ir à seleção

Navajas questiona o 'passe livre'

MARCELO DIEGO
DA REPORTAGEM LOCAL

O "passe livre" dos jogadores está promovendo o enfraquecimento dos clubes e da seleção brasileira masculina de vôlei.
A opinião é de Ricardo Navajas, um treinador com interesse nas duas áreas: é um técnico acostumado a levar seu clube, o Report/Suzano, às finais e um postulante a dirigir a seleção (leia texto nesta página).
O comando da seleção está vago desde o fim da Olimpíada, quando José Roberto Guimarães (medalha de ouro em Barcelona) abandonou o posto para treinar o Banespa.
Navajas, um técnico com fama de "durão", que coloca o time para treinar em três períodos (manhã, tarde e noite), adotou o caminho supostamente mais difícil para chegar à seleção: desfila um rol de críticas aos jogadores, à situação do vôlei e ao "passe livre".
*
Folha - Você, acostumado a gritar e a gesticular durante todo o tempo de jogo, esteve muito calmo nas finais do Paulista. É uma forma de tentar mudar a imagem?
Ricardo Navajas - Não. Isso depende das circunstâncias. Você precisa é ter sensibilidade. Às vezes, gritar, dar bronca, ajuda. Outras, não. Eu sou assim.
Folha - Transmitiu uma imagem de conformismo...
Navajas - Infelizmente, o que posso fazer se o jogador não assimila o que passo? Jogador precisa assumir a responsabilidade. Vai não sei onde, ganha não sei quanto, é ídolo. Mas é bom só na hora de fazer contrato, quando é o melhor do mundo. Depois, esquece essa condição.
Folha - Um aspecto muito discutido no futebol é a aprovação da lei do passe. No vôlei, não existe passe (contrato de vinculação exclusiva de um atleta a um clube). Isso prejudica?
Navajas - Tem muita armação aí. O jogador que tem nome, pede quanto quer. E o clube tem que pagar. Senão, vem outro e paga.
Folha - Mas não é o correto? A lei da oferta e da procura?
Navajas - Mas o cara nem é tudo isso.
Tem que dar retorno para o patrocinador e daí chamam o carinha que está sempre na seleção, mesmo sem merecer.
O Suzano contratou o Giovane. Eu não conheço o Giovane, treinei 25 dias com ele. Agora que eu vou conhecer.
Mas o clube contrata, tem que contratar. Fica vicioso. Atrapalha o clube e a própria seleção.
Folha - Então, você acha que o jogador usa a seleção como trampolim?
Navajas - Claro. E daí acontece o que houve na Olimpíada (o Brasil ficou em quinto lugar). Tem que dar chance para os novos jogadores. Não que vá ganhar alguma coisa. Não vai ganhar nada.
Folha - Falando assim, não parece que você quer dirigir a seleção.
Navajas - Quero sim. Tenho currículo para isso. Mas se fosse, não aceitaria essa interferência. Jogador quer fazer nome, quer ganhar bem, tem que jogar. Sou um idealista.
Folha - E qual o ideal?
Navajas - Consertar isso aí. Melhorar para a seleção e também para os clubes. Quem sabe, com jogadores fora da seleção, aumenta a dedicação.
Jogar sem risco é muito fácil. O cara sai de um clube, pede quanto quer e sabe que vai jogar no outro.
Tem que acabar. Porque para o jogador é mais fácil, ele não quer nem saber. Ele quer ganhar mais.

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