São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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Marisa Monte mostra seu "Barulhinho Bom" em SP

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Marisa Monte dá um ponto final na turnê "Cor de Rosa e Carvão", que começou há dois anos em Chicago e rodou os Estados Unidos, Europa e Brasil.
Em tese, o show de amanhã até 29 de setembro, no Palace, já foi assistido pelos paulistas em 95. Mas parte do repertório é novo.
Seriam lançados, se não fossem os atrasos, dois novos trabalhos da cantora: um CD, "Barulhinho Bom", e um homevideo.
"Preferimos não cancelar o show. O conceito é o mesmo, mas 60% do show é diferente", garante Monte. A gravadora EMI promete o CD para daqui a 15 dias.
O novo álbum, "Barulhinho Bom", assinado pela dupla Marisa Monte e Arto Lindsay (que produziu os dois discos anteriores da cantora), é uma coletânea ao vivo de 11 músicas gravadas durante a turnê e um segundo disco gravado em estúdio com 7 músicas.
"Dois discos ao preço de um", promete Marisa.
Entre as músicas de estúdio estão as inéditas "Magalamabares", "Arrepio" e "Maraçá", de Carlinhos Brown, "Tempos Modernos", de Lulu Santos, "Chuva no Brejo", de Moraes Moreira e "Cérebro Eletrônico", de Gilberto Gil.
Para completar, "Blanco", de Marisa Monte e Naná Vasconcelos, sob trechos do poema homônimo de Octavio Paz, traduzido por Haroldo de Campos.
A partir de novembro, Marisa Monte parte para a Europa, Estados Unidos, Japão e América Latina, onde lançará o homevideo e o CD "Barulhinho Bom".
Marisa Monte falou de sua carreira e de seus novos trabalhos por telefone, do Rio de Janeiro, enquanto ensaiava para o show.
*
Folha - Em 94, vi um show seu em San Francisco. Estava lotado. Quem é o seu público no exterior?
Marisa Monte - Não sei como descobriram que eu existia. Acho que 70% são brasileiros. Gosto de fazer shows para brasileiros que moram no exterior. Já morei fora e sei como é legal levar amigos a um show de música brasileira.
Folha - Você parte para investir mais neste mercado?
Monte - Vendi mais de 100 mil discos lá fora. É legal ir além das fronteiras do Brasil, mas não tenho vontade de entrar para o mundo pop internacional.
Folha - Você está redescobrindo os Novos Baianos?
Monte - Quando eu era pequena, meus pais eram fãs dos Novos Baianos, ouviam direto "Besta É Tu", "Preta Pretinha". Acabei gostando por tabela. Minha mãe ficou comovida quando cantei "A Menina Dança". Compartilho com a musicalidade deles. No mais, namoro o Davi Moraes (filho do cantor Moraes Moreira).
Folha - Você aparenta interferir em todas as etapas de sua carreira, das capas dos discos aos figurinos dos shows.
Monte - Cantar não é só cantar. Tudo tem de passar por mim. Conceitualmente, eu interfiro muito. Em cada trabalho, penso muito no que estou querendo dizer. Quero tocar as pessoas mais do que superficialmente. Tenho de ter autoridade. Quebro a cabeça procurando um sentido para as coisas.
Folha - Inclusive no homevideo?
Monte - Queria um registro do show, mas pessoalmente não gosto daquelas fitas que têm apenas o show. Montamos um set de filmagens no hotel Paineiras, no Rio, e convidamos amigos e parceiros para tocar. Foi lá que reuni os Novos Baianos. Chegaram e tocaram, sem ensaiar. O espírito do vídeo é mostrar a vivência dos músicos, os olhares, o erro, não apenas o resultado final. Folha - Duas músicas são marcas de seus shows, "I Can See Clearly Now" (Johnny Nash) e "Não Quero Dinheiro" (Tim Maia). Por que não as gravou?
Monte - Não sei. Canto essas músicas desde o começo da carreira. Elas eram para entrar no disco "Verde Anil Amarelo", mas não senti que era o momento. Agora, o Jimmy Cliff gravou "I Can See Clearly Now", e foi um estouro.
Folha - Você morou na Itália para estudar canto lírico. Onde foi parar a Marisa operística?
Monte - Desde os 16, eu já tinha sido convidada para gravar um disco. Mas fui morar em Roma. Ópera era minha primeira opção de vida. Chegando lá, eu era a cantora brasileira da escola. E comecei a cantar e redescobrir o Brasil. Me arrepiava cantando João Gilberto, Nelson Cavaquinho, Assis Valente. Ópera eu teria de morar anos na Europa. Acabei voltando.
Folha - Por que demorou anos para gravar o primeiro disco?
Monte - Não tinha necessidade do disco. Estava aprendendo. As gravadoras apareciam, mas eu nem queria falar de grana. Aliás, mesmo no primeiro disco, não se falou em dinheiro. Eu simplesmente abri mão do adiantamento. Folha - Você usa muito as mãos quando canta. É sinal de timidez?
Monte - Não sou das mais exibidas. As mãos servem para estender minha expressão. Sou boa com as mãos, faço tricô, crochê, artesanato, sempre achei que ia fazer a vida com as mãos.

Show: Marisa Monte
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, tel. 011/531-4900)
Quando: de amanhã a 29 de setembro
Quanto: de R$ 30 a R$ 80

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