São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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A HORA DA PROVA

Após 16 meses de acúmulo de reservas, o Banco Central registrou, neste início de setembro, uma saída líquida de capitais -US$ 43,49 milhões. O fato não é necessariamente negativo -visto que as reservas internacionais têm um alto custo financeiro para o Tesouro e muitos consideram que seu montante hoje é até excessivo. Mas pode ser, em certo sentido, o início de uma provação para a política cambial.
À medida que se reduz a diferença entre as taxas de juros das aplicações no Brasil e no exterior, o país poderá avaliar o quanto a manutenção da atual taxa de câmbio depende da entrada de recursos especulativos.
Se, mesmo com taxas de juros mais baixas, o volume de reservas se estabilizar, ainda que em um patamar mais baixo, o Brasil estará em condições de crescer sem risco externo. Nesse caso, o afluxo de investimentos diretos estaria compensando a deterioração da balança comercial, como espera o governo.
Caso a saída de capitais se prolongue e se acentue, entretanto, tal situação poderá vir a limitar a necessária redução das taxas de juros vigentes no país. E isso seria um obstáculo a uma retomada do crescimento mais consistente e duradoura.
Para ficar em um exemplo mais próximo. A Argentina, que sustenta um câmbio fixo, teve de manter elevadas taxas de juros desde o ano passado, apesar de sua economia estar em recessão.
A margem de manobra das políticas econômicas se reduz em face de um mercado financeiro globalizado. E a decisão de manter uma taxa de câmbio valorizada coloca limites ainda mais duros à possibilidade de orientar a economia para o crescimento.
No Brasil, o Banco Central ainda tem meios de elevar a rentabilidade das aplicações vindas do exterior sem ter de arrochar novamente as condições de crédito. Pode reduzir o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre a entrada de capitais. Mas, pensando a longo prazo, isso também tem um limite.
Será o comportamento dos juros e dos fluxos de capitais nos próximos meses que mostrará se a taxa de câmbio no Brasil tornou-se, além de âncora dos preços, também um obstáculo ao desenvolvimento.

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