São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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A ex-"América Latrina"

CLÓVIS ROSSI

Florianópolis - No dia de 1977 em que o governo militar brasileiro rompeu o acordo militar com os Estados Unidos, conversei, no Palácio do Planalto, com um general do qual só me lembro do prenome (Ênio). O rompimento era em parte resposta à pressão de Washington contra o acordo nuclear com a Alemanha e o desrespeito aos direitos humanos.
O general, no entanto, tinha a tese de que os EUA estavam com medo do que chamava de "Estados Unidos do Sul" (o Brasil). Era a época do "Brasil Grande" e outros slogans "patrioteiros".
Não durou muito. Nem poderia. Ditaduras não combinam com um país de fato grande. Logo, o Brasil virou apenas parte do que os jornalistas chamávamos de "América Latrina", pobre e triste mancha de sangue que se estendia da Guatemala ao Uruguai.
Confesso que não esperava sobreviver para testemunhar a reemergência de uma nova versão dos Estados Unidos do Sul, agora batizada modestamente de Mercosul.
É indisfarçável o orgulho com que os diplomatas dos quatro países que o compõem exibem essa nova logomarca, carregada, claro, de problemas e defeitos, mas cada vez mais digna de atenção, para não dizer de respeito.
"De certa maneira, a Alca já está sendo construída", diz, por exemplo, o embaixador José Botafogo Gonçalves, principal negociador do processo de integração.
Refere-se à Área de Livre Comércio das Américas, que reunirá, talvez, algum dia, todos os 35 países americanos (se Cuba for incluída).
Como está sendo construída? Principalmente graças aos acordos do Mercosul com seus vizinhos sul-americanos. É um claro contraponto ao Nafta, comandado pelos EUA. Mas sem tolos arroubos de grandeza. Está longe ainda de um Estados Unidos do Sul, mas a era da "América Latrina" começa a fazer parte do passado. Que bom.

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