São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 1996
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Diretores do Incra contrariam Jungmann

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Superintendentes do Incra estão negociando com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), apesar da demissão de Miguel Abeche, em São Paulo, por ter recebido líderes do movimento.
A assessoria do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) informou que Abeche foi demitido porque cabe ao governo paulista negociar o conflito no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo).
Os superintendentes de Pernambuco, Roosevelt Lima, e do Pará, coronel Flaviano Amorim, disseram à Folha que não receberam instrução oficial do ministro para evitar negociação com o MST.
"Talvez ele tenha dado essa recomendação no caso de São Paulo", afirmou Roosevelt Lima.
"A orientação é falar com as entidades sociais e não houve ordem contrária", disse Flaviano Amorim.
'Negociação política'
O ministro Jungmann afirmou ontem que a negociação política com o MST continua suspensa, mas os superintendentes do Incra podem receber e atender reivindicações do MST.
"O que está suspensa é a negociação política com o MST. O processo de dar informações, receber líderes é coisa normal e vai continuar", disse ele.
Ele condiciona a retomada de negociação com o MST ao compromisso dos líderes do movimento dos sem-terra de não mais invadir prédios públicos.
No Pará, o superintendente viajou ontem para Marabá (leste do Estado) para negociar com o MST a desocupação do prédio do Incra, invadido por 900 famílias.
"Ao superintendente caberá tomar as medidas para desocupar o prédio", disse o ministro.
Em Pernambuco, o superintendente afirmou que manteve reunião anteontem com o líder do MST no Estado, Jaime Amorim. Ele informou que oito áreas reivindicadas pelo movimento serão desapropriadas neste mês.
"Estamos com um bom diálogo com os líderes do MST e não houve ocupações nos últimos dois meses", disse Roosevelt Lima.
Reunião
O novo superintendente do Incra, Jonas Villas Boas, reúne-se, a partir das 10h, com fazendeiros do Pontal, representados por integrantes do Sindicato Rural de Presidente Prudente. A reunião havia sido marcada por Miguel Abeche.
O MST informou que não foi chamado por Villas Boas e que não vai participar da reunião, mesmo se convidado. A reunião marcada por Abeche previa a participação dos sem-terra.
A reunião vai ser no Recinto de Exposições de Presidente Prudente, que pertence ao sindicato patronal.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que esteve ontem na área, foi impedido de entrar na fazenda Santa Rita pelo administrador Antônio João Marcondes.
UDR
Jungmann disse também que a UDR (União Democrática Ruralista), recriada por fazendeiros de São Paulo, só poderá funcionar de acordo com a lei. "O Brasil mudou e, fora da legalidade e do respeito à vida, não há espaço para qualquer pessoa ou instituição."
Ele afirmou que o governo não participará de nenhuma operação de desarmamento de fazendeiros no Pontal do Paranapanema.

Colaborou Luiz Malavolta, da Agência Folha no Pontal do Paranapanema

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