São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 1996
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Contrariado, Izetbegovic promete colaborar

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Apesar de estar contrariado por ter de governar junto com um líder sérvio de "linha dura", o muçulmano Alija Izetbegovic, 71, que obteve o cargo mais importante nas eleições da Bósnia, prometeu colaborar com os sérvios e reintegrar o país, dividido em etnias.
Izetbegovic venceu por menos de 40 mil votos o sérvio Momcilo Krajisnik para a chefia da Presidência, da qual os dois farão parte.
A função da chefia é a representação da Bósnia no exterior. As decisões do governo serão tomadas por consenso entre o sérvio, o muçulmano e o croata na Presidência.
"Só gostaria de reiterar o meu objetivo político -em resumo, é a reintegração do país e da Justiça."
Mas, quando questionado se iria se sentar à mesa para discutir com Krajisnik, respondeu: "Não há mais remédio, terei de fazê-lo."
Krajisnik, 51, além de defender a independência sérvia, era o principal aliado do líder sérvio Radovan Karadzic, acusado da morte de milhares de muçulmanos na guerra.
Ontem, o principal promotor do tribunal que julga os crimes de guerra ocorridos na região, Richard Goldstone, disse que a corte poderia fracassar por causa da falta de apoio internacional para prender os acusados dos crimes.
Nacionalismo
Apesar de os negociadores da paz na região terem se sentido aliviados com a derrota de Krajisnik, eles ainda temem o crescente nacionalismo dos muçulmanos.
Críticos de Izetbegovic dizem que a sua defesa de uma Bósnia unificada é mais uma ambição territorial do que um comprometimento com a diversidade étnica.
O recém-eleito representante croata na Presidência, Kresimir Zubak, 48, disse que a única solução para a Bósnia "é se tornar uma Suíça, onde há a convivência pacífica das etnias". O modelo suíço dá mais poder às comunidades locais e menos ao governo central.
O secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher, disse ontem que as eleições na Bósnia foram "uma grande vitória para a democracia", mas Izetbegovic acusou ontem novamente os sérvios de terem cometido irregularidades.
Votaram em território sérvio 1,02 milhão de eleitores, apesar de apenas 1,01 milhão de eleitores sérvios terem se registrado em 1991.
Os organizadores do pleito afirmaram que a diferença se deve ao fato de que muçulmanos e croatas votaram na República Srpska.
Os primeiros resultados para as assembléias legislativas foram divulgados ontem. Os partidos nacionalistas lideravam a apuração.
Mas a Lista Unificada (coalizão multiétnica), o Partido para a Bósnia-Herzegóvina (muçulmanos moderados), a União do Povo para a Paz (sérvios neocomunistas) e o Partido Radical Sérvio também devem obter cadeiras.

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