São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Pressão do Planalto faz Havel mudar agenda em SP e não encontrar Maluf

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Datafolha
Pitta (PPB) - 37%
Erundina (PT) - 21%
Serra (PSDB) - 16%
Rossi (PDT) - 9% em 17 e 18/9

As eleições municipais em São Paulo acabaram afetando a agenda do presidente da República Tcheca, Vaclav Havel, na cidade.
Um encontro de Havel com o prefeito Paulo Maluf (PPB), previamente marcado pelo Itamaraty em um prédio do projeto Cingapura, desapareceu da agenda do presidente tcheco por pressão, segundo a Folha apurou, do Planalto.
Às vésperas da eleição, o governo quis evitar que a visita de Havel pudesse ser usada eleitoralmente por Celso Pitta, o candidato de Maluf à sua sucessão.
Originalmente, segundo a agenda divulgada pelo Itamaraty, Havel e Maluf se encontrariam ontem, às 16h, em um prédio do Cingapura, em Santana (zona norte).
Na programação oficial, o nome do projeto habitacional malufista estava, inclusive, grafado como "Singapura", diferente da forma adotada pelo governo municipal.
Apesar do cancelamento do encontro com Maluf, Havel acabou conseguindo ver rapidamente um prédio do Cingapura, na favela Chaparral (zona leste).
A visita, improvisada, ocorreu à tarde, quando os integrantes da comitiva tcheca se dirigiam ao aeroporto de Cumbica, de onde embarcariam para o Rio.
O interesse de Havel em conhecer o projeto Cingapura havia sido manifestado pela embaixada da República Tcheca ao Itamaraty na fase de preparação da viagem.
O Itamaraty chegou a comunicar ao cerimonial da Prefeitura de São Paulo a intenção da visita e agendou o encontro de Havel com Maluf. Dias depois, avisou a prefeitura que a visita fora cancelada.
"Faz parte"
O secretário André Santos, assessor de imprensa do Itamaraty, disse ontem que "faz parte de uma visita longa o cancelamento de uma ou outra atividade, ou a inclusão de um evento qualquer".
O porta-voz de Havel, Ladislav Spacek, disse que "nem todos os eventos programados previamente cabem na agenda".
Havel esteve ontem de manhã na Fiesp e no Parlatino e almoçou com o governador Mário Covas (PSDB), no Palácio Bandeirantes. À tarde, acabou tendo apenas um compromisso em São Paulo, uma visita à União Cultural Tcheco-Brasileira, uma associação que conta com 150 associados.
Em todos os locais, deu autógrafos (sempre desenhando um coraçãozinho) e posou para fotos.
Garoto-propaganda
Em todas as oportunidades, Havel se deixou fotografar com um copo de cerveja nas mãos.
No Parlatino, Havel bebeu Urquell, uma cerveja tcheca. Nos outros locais, bebeu cerveja brasileira -além de uma caipirinha, na União Cultural Tcheco-Brasileira.
"Se não é proibido produzir, por que seria proibido beber?", perguntou Havel, em resposta a uma pergunta da Folha, se não se preocupava em aparecer publicamente com um copo de bebida alcoólica e um cigarro aceso na mão.
Em seu discurso no Parlatino, Havel atacou o neoliberalismo. "Demonstra-se que seria ingênuo esperar que todos os problemas do mundo serão só, e apenas, resolvidos pelas leis de mercado".
"Não existe nenhuma panacéia que poderá resolver, de maneira total, os diversos problemas do mundo atual. A ideologia comunista tampouco o era, tampouco o é o culto do mercado", disse.

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