São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996 |
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Índios comem até macaco assado
ABNOR GONDIM
A cozinha desses índios oferece 28 iguarias de assados, líquidos, sopas e pastas não encontrados em nenhuma outra comunidade. Entre eles, a culinária é obra feminina. São as mulheres que dedicam boa parte de seu tempo no preparo de alimentos servidos, geralmente, quentes. Ao contrário da maioria das tribos, o cardápio dos marubos não está sustentado exclusivamente na mandioca, um tubérculo semelhante à batata que é bastante consumido pelos índios brasileiros. Além da mandioca, eles usam também o milho e a banana como base de sopas e mingaus. Da mandioca, eles produzem farinha utilizada de várias formas. Uma das formas mais apreciadas é o "arabu", pirão que leva ovos de quelônios regionais, como o tracajá e a tartaruga. Como condimento, utilizam açafrão, pimenta e coentro para alterar a cor e o sabor. São especialistas no preparo de sucos de frutas amazônicas, como o açaí, pupunha, babaçu, entre outros. Outra especialidade está na técnica de extrair bebidas que podem causar embriaguez de vegetais cozidos. Na culinária marubo são ainda utilizados peixes e animais domesticados e silvestres. Entre as iguarias exóticas, encontram-se o assado de carne de lagartas e de tapurus. Esses alimentos são, respectivamente, pequenos répteis e invertebrados encontrados no interior dos caroços das frutas e em troncos podres de árvores. A lagarta entra na confecção da iguaria conhecida como "cawa", um embrulho formado com folhas de palmeira que é assado diretamente sobre as brasas de fogueira. No embrulho são colocados pedaços de peixes miúdos e de sapos. Macaco assado é outro prato exótico. Mas aparece com relativa constância nas refeições. Para confeccionar o macaco assado, retalha-se a perna em sentido vertical e põe-se a carne para assar nas brasas da fogueira. Antes disso, algumas índias preferem retirar o couro e passar sal na carne. Ao se cozinhar a carne de macaco para fazer sopa pode-se acrescentar o intestino do animal amarrado em uma penca. Além do macaco, os mamíferos mais consumidos pelos marubos são a paca, o caititu, a anta, a queixada e o veado todos animais da fauna amazônica. A carne da caça é esquartejada para a seleção de determinadas partes do animal e preparo de receitas específicas. Em algumas iguarias, os marubos usam uma técnica comum entre os 325 mil índios brasileiros -o moqueamento. É a defumação de pedaços de carne ou de peixe que passam pelo menos uma noite expostos ao calor e à fumaça de uma fogueira. A carne fica ressecada e é conservada por mais tempo. Os peixes regionais integram o cardápio diário. Em geral, as comidas à base de peixe são condimentadas com pimenta. Os marubos são também especialistas no preparo da "waca", bebida cremosa à base de vegetais cozidos. A fabricação da "waca" impõe um ritual de congraçamento entre as aldeias marubos. No caso da bebida de macaxeira, quando bem fermentada, provoca embriaguez. Mas se ingerida algumas horas após a sua preparação é suave e indicada para ser servida nas refeições. No processo de fermentação as índias mastigam uma porção de mandioca. Quanto mais tempo fermentar, mais azeda e forte fica, embriagando mais rapidamente. Os marubos se consideram privilegiados por possuírem o domínio da tecnologia agrícola e do preparo dos alimentos. Gozam da fama de excelentes anfitriões não só pelo tratamento dispensado aos visitantes como também pelas regras de etiqueta que oferecem ao servir seus alimentos. A etiqueta marubo estabelece que, em primeiro lugar, deve-se comer sopa ou carne, usando a mandioca ou a banana como complementos. Por último, deve-se comer mingau ou as bebidas de vegetais cozidos. Se o convidado não der conta de comer ou beber tudo, não há problema. Os marubos são conhecidos por evitarem o desperdício de alimentos. Texto Anterior: RAÇÃO MILITAR FRANCESA Próximo Texto: RAÇÃO MILITAR BRASILEIRA Índice |
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