São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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SUS e corporativismo

LUÍS NASSIF

O último encontro nacional da saúde -que reuniu em Brasília os integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS)- não deixou boa impressão.
A muitos observadores isentos, pareceu muito politizado e corporativo.
Em vez de discutir formas de melhorar o atendimento público e aprimorar sua qualidade, o que se viu foi uma sucessão de manifestações corporativistas e ênfase única no aumento da receita para o setor e no fechamento do mercado a qualquer outra forma de atendimento médico.
Há uma linha modernizante no SUS, mas, a esta altura do campeonato, parece minoritária. Seu principal ideólogo é o deputado Eduardo Jorge (PT-SP).
Jorge defende a implantação de contratos de gestão no âmbito de cada unidade, a implantação de modelos competitivos e a introdução de temas pelos quais a coluna tem se batido -criação de indicadores claros, que permitam à opinião pública acompanhar e controlar as ações do SUS.
E também modelos de distribuição de verbas que premiem a eficiência. Hoje em dia, se alguém gasta menos do que o previsto, não só perde as sobras como tem seu orçamento reduzido no ano seguinte.
Além disso, Jorge advoga a necessidade de ações cooperativas com o sistema privado de saúde, partindo do pressuposto óbvio de que o SUS não é fim em si próprio, mas meio de atingir o verdadeiro objetivo, que é melhorar a saúde do brasileiro.
Corporativismo
Não foi essa a preocupação que transpareceu do encontro, segundo esses observadores. Pelo contrário.
Em vez de colocar o cliente como objetivo final de todas as discussões, o que se viu foi a preocupação única de discutir aumento de verbas e estabelecer reserva no mercado de saúde para o SUS.
O que se quer? Se o SUS não dá conta do recado hoje, como pretender que assuma as responsabilidades por 40 milhões de pessoas atendidas pela rede privada?
Hoje em dia, planos de saúde constam das reivindicações de qualquer dissídio trabalhista. Como pretender ir contra essa onda?
Soa óbvio que, se o SUS conseguir prestar bom atendimento, atrairá cada vez mais os clientes dos planos de saúde. Mas a luta tem que ser para apresentar o melhor atendimento e disputar essa clientela, não para criar reservas de mercado -em um país onde os recursos são escassos.
O ministro Adib Jatene já cumpriu papel relevante ao comandar a aprovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), para evitar uma crise na saúde.
Está na hora de providenciar uma honrosa substituição por alguém mais comprometido com a ênfase geral e com coragem suficiente para dobrar o corporativismo do SUS, colocando-o efetivamente a serviço do público.
O ministério tem comandado ações relevantes -como o recente programa de planejamento familiar. Mas o ministro não sabe priorizar verbas nem instituir modelos gerenciais eficientes.
Se continuar do jeito que está, o dinheiro da CPMF não vai dar nem para o começo.

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