São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Roqueiros tomam Câmara Municipal

Personalidades da música recebem medalhas

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Câmara Municipal de São Paulo recebeu, na noite de terça-feira, visitantes diferentes dos habituais. Nada de lobistas ou "malas pretas".
Dezenas de roqueiros, no estilo, ocuparam o Salão Nobre para celebrar, antecipadamente, o dia do rock (21 de setembro).
O público assistiu à entrega de medalhas a personalidades como Branco Melo e Sérgio Brito, representando os Titãs, os jornalistas Marcos Filippi ("Jornal da Tarde") e Felipe Zobaran ("Showbizz"), o radialista José Camargo Júnior (89 FM), o produtor Rick Bonadio, dos Mamonas Assassinas, e Giancarlo Civita, diretor da MTV.
Antes da solenidade, como de praxe, o Hino Nacional foi executado, não pela banda da PM, mas pelo baixista Coquinho (Paulo Ricardo, Raul Seixas, Sergio Dias) e pelo guitarrista Luis Carlini (Guilherme Arantes, Erasmo Carlos, Camisa de Vênus).
Astrid Fontenelle, apresentadora oficial, procurou seguir o protocolo diante de "uô, uô" da platéia, já que suas palavras seriam publicadas no "Diário Oficial".
Mas, mesmo com o formalismo, deixou escapar um palavrão ao anunciar os Titãs. Sairá no "Diário Oficial"?
A cerimônia foi idealizada pelo vereador Alberto Turco Loco Hiar (PSDB), empresário das confecções Surf Combat, Vision Street e Cavalera, em plena campanha para reeleição.
A queda do Muro de Berlim implica num cenário político curioso. Saem as ideologias de esquerda e direita, e entram componentes de gosto pessoal.
Turco Loco começou vestindo o Sepultura, em 1988. Hoje, veste bandas como Skank, Raimundos, Cidade Negra e Ratos do Porão.
Segundo sua assessoria, seu eleitorado é basicamente de jovens entre 16 e 30 anos, e muitos deles vêm ao seu gabinete, forrado por guitarra, prato de bateria, prancha de surf e skate, para pedir pista de skate no bairro ou dinheiro para montar uma banda.
"O rock proporciona lazer e cultura. Sou quase um ET na política. Faço discursos com gírias. Zombavam de mim, da minha gravata do Pateta. Mas ganhei espaço quando perceberam que onde não tem lazer e cultura o índice de criminalidade é mais alto", desabafa Turco Loco.
"Não voto no PSDB, sou Erundina, mas voto em Turco Loco porque é o único vereador que tenho o número do celular", disse Astrid Fontenelle.
"Ele achou nosso endereço em algum lugar e mandou o convite. Viemos para dar a ele uma fita demo", disse Thiago Orloski, baterista da Xuxus Anarquistas.
"Ele é influente. Sempre tem o nome do cara nos encartes dos discos", completa Diego Lima, vocalista da Xuxus.
"Ele patrocinou a divulgação da nossa banda. É importante alguém do meio político olhar para os músicos", teoriza Karen, vocalista e baixista da Teahouse Band.
"Estou trabalhando para ele. Montamos o Comitê do Rock, onde há workshops, palestras e onde as bandas podem ensaiar", diz Clemente, dos Inocentes.

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