São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Equipe econômica quer reeleição aprovada logo

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O cenário otimista projetado pelo governo corre alguns riscos políticos e econômicos.
A própria equipe econômica estabeleceu alguns limites que, se forem ultrapassados, acenderão a luz vermelha dentro do governo.
O maior risco político está relacionado à votação da emenda da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A equipe torce para que a emenda seja aprovada logo no início de 97. Isso geraria um clima positivo, aumentando o volume de investimentos externos no Brasil.
Os técnicos temem, porém, que o Palácio do Planalto ceda muito às pressões fisiológicas dos partidos em troca da reeleição. Por exemplo, autorizando condições excessivamente favoráveis na rolagem das dívidas dos Estados, que somam cerca de R$ 90 bilhões.
Para consumo externo, o presidente e os ministros da área econômica negam que exista qualquer risco de fisiologismo na disputa pela reeleição. Nos bastidores, vários técnicos admitem que isso será quase inevitável. A dúvida é saber se o custo será alto ou baixo.
Riscos econômicos
As principais preocupações da equipe na área econômica são as contas externas (balança comercial) e o déficit público.
O governo não teme um déficit na balança comercial na casa dos US$ 5 bilhões nem um desequilíbrio nas contas públicas perto de 2,5% do PIB no próximo ano.
Mas considera fundamental que, no início do segundo semestre de 97, os dois indicadores mostrem uma tendência de recuperação segura e contínua até o final do ano.
Caso contrário, o governo já definiu que adotará medidas para corrigir o rumo. Aí, a meta de crescimento de 5% do PIB será abandonada. O mesmo ocorrerá com a tendência de queda nos juros.
Outro obstáculo à frente, que pode surgir ainda neste ano, é uma mudança para cima na taxa de juros dos Estados Unidos.
Existe uma expectativa de que o juro norte-americano suba logo depois das eleições nos EUA, em novembro. Uma alta significativa provocaria a saída de capital do mercado brasileiro.
Parte dos especuladores redirecionariam seus recursos para os EUA. Se o volume repatriado for alto, essa revoada poderia forçar o governo brasileiro a rever suas metas de redução das taxas de juros e de desvalorização do câmbio.
Divergências
Apesar de estar afinada no discurso otimista, esses riscos provocam divergências dentro da equipe econômica quanto ao ritmo previsto para alguns indicadores.
O Banco Central, como de costume, tem uma postura mais conservadora. O seu presidente, Gustavo Loyola, aprova uma redução das taxas de juros.
Loyola não concorda, porém, com o ritmo de queda defendido pelo Ministério do Planejamento e por alguns setores da Fazenda.
Pressões consumistas
O BC prefere manter uma redução gradual até o final do ano e aguardar o resultado das eleições nos Estados Unidos, para definir uma queda maior apenas em 97.
A diretoria do BC também acredita que um crescimento de 5% do PIB no próximo ano seria muito elevado. Prefere apostar em algo em torno de 4%, para evitar pressões consumistas que desequilibrem o mercado interno.
(VC e FR)

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